Com cerca de 8 mil hectares de área preservada, o Parque Nacional Serra de Itabaiana é considerado o principal atrativo para o ecoturismo em Sergipe. Localizado nos limites dos municípios de Itabaiana e Areia Branca, no Agreste Sergipano, o acesso à unidade de conservação é feito pela BR-235.
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A rodovia federal que corta a Serra de Itabaiana facilita a chegada de turistas ao local, mas também esconde perigos para a preservação de mais de 200 espécies de répteis, anfíbios, aves e mamíferos que vivem na área.
Durante 12 meses, pesquisadores do Laboratório de Biologia e Ecologia de Vertebrados, do campus Alberto Carvalho, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), percorreram periodicamente 15 km da BR-235, no entorno do acesso ao Parque Nacional, para investigar o impacto da rodovia na fauna.
Foram identificados 265 animais silvestres atropelados no período analisado. Isso representa um índice quilométrico de abundância de 0,565, considerado alto. O índice é calculado a partir do número de vezes que os pesquisadores fizeram o percurso, a extensão percorrida, e o quantitativo de animais mortos.
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"Existe a necessidade de saber o quanto a estrada interfere na diversidade local. É sabido que a maioria desses animais morre por atropelamento, mas existem diversos efeitos que a BR gera na fauna. É isso que também estamos pesquisando," explica o professor de Biociências e coordenador do Laboratório de Biologia e Ecologia de Vertebrados da UFS, Eduardo Reis Dias.
Doutor em Ecologia, Eduardo investiga a vida animal na região há quase 10 anos. Atualmente, ele coordena o projeto de pesquisa intitulado "Ecologia e conservação da fauna de vertebrados no Parque Nacional Serra de Itabaiana", por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC).
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O estudante do curso de graduação em Ciências Biológicas da UFS, Rafael Barbosa, é bolsista da pesquisa e atuou diretamente no levantamento de campo, a fim de identificar o quantitativo de mortes e o tipo de espécie atropelada.
"Se fizéssemos uma extrapolação desse índice quilométrico de abundância, simulando para os 365 dias do ano, indo todos os dias para a pista, encontraríamos 2.700 animais atropelados," explica o estudante.
Além da rodovia interferir no deslocamento das espécies na vegetação por cortar o habitat delas da unidade de conservação, a decomposição de animais atropelados contribui para a manutenção do ciclo de atropelamentos ao atrair animais carnívoros.
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A criação de passagens de fauna, como corredores, túneis ou passarelas verdes, para tornar a travessia das espécies mais segura, é apontada pelos pesquisadores como uma das soluções para o problema, além do reforço da sinalização às margens da pista.
Sons
No mestrado em Ciências Naturais da UFS, Jaqueline Oliveira também investiga os impactos da BR-235 na fauna da Serra de Itabaiana. Ela analisa como o barulho de veículos na estrada afeta a comunicação dos anuros, que são espécies de anfíbios, a exemplo de sapos.
"Como a maioria dos anuros tem a comunicação baseada na vocalização, o ruído provocado pela passagem de veículos na estrada pode sobrepor a vocalização desses animais. Isso pode prejudicar o desempenho reprodutivo das espécies," explica Jaqueline.
O Parque
No dia 15 de junho de 2005, a reserva ecológica de apenas 288,53 hectares virou Parque Nacional da Serra de Itabaiana com a ampliação da área preservada em quase três vezes. O local é administrado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
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Além da riqueza natural da fauna e da flora da Mata Atlântica e da Caatinga, a unidade de conservação conta com trilhas e banhos de cachoeira e poções. O topo da Serra de Itabaiana é o segundo ponto mais alto do estado, com 659 metros de altitude.
Josafá Neto
comunica@academico.ufs.br