Qua, 26 de julho de 2023, 08:00

Estudo da UFS analisa contaminação por mercúrio em peixes no Rio São Francisco
Foram avaliadas 25 espécies coletadas na região do Baixo São Francisco
Análise química de mercúrio envolveu tecido muscular de peixes. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Análise química de mercúrio envolveu tecido muscular de peixes. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

Considerado um dos alimentos mais saudáveis para a alimentação humana, os peixes são recomendados na dieta alimentar pela pouca gordura e baixa caloria, além de serem ricos em proteínas. No entanto, o consumo do pescado pode ser prejudicial à saúde das pessoas, em caso de contaminação por metais, provocando danos aos sistemas nervoso, digestivo e imunológico.

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Essa preocupação levou pesquisadores do Laboratório de Tecnologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal de Sergipe (UFS) a realizarem um estudo, cujo objetivo foi avaliar a contaminação por mercúrio em espécies capturadas no Baixo São Francisco, entre os estados de Sergipe e Alagoas.

Em parceria com o Centro de Recursos Pesqueiros da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), a engenheira de Pesca, Érica Alves, desenvolveu a pesquisa no mestrado em Recursos Hídricos da UFS, analisando o tecido muscular dos peixes coletados durante quase um ano no Velho Chico.

Para realizar a captura, foi preciso a aprovação da pesquisa no Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), e no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado do Ministério do Meio Ambiente.

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Redes de pesca foram utilizadas para captura de peixes para pesquisa. Foto: Arquivo pessoal/Érica Alves
Redes de pesca foram utilizadas para captura de peixes para pesquisa. Foto: Arquivo pessoal/Érica Alves

Foram realizadas duas coletas de peixes durante as estações seca e chuvosa na região ribeirinha entre os municípios de Propriá (SE) e Porto Real do Colégio (AL). Ao todo, 1.606 peixes de 25 espécies foram capturados com o uso de redes de pesca.

Veja as espécies com maiores níveis de mercúrio:

NOME CIENTÍFICONOME COMUM
Acestrorhynchus lacustrisLambiá
Serrasalmus brandtiiPirambeba
Pygocentrus pirayaPiranha
Bryconops affinisPiaba verde
Hoplias malabaricusTraíra

Os resultados mostraram que, no período seco, a espécie Acestrorhynchus lacustris, popularmente conhecida como Lambiá, apresentou a maior concentração média de mercúrio no músculo (0,1183 mg/kg-¹). Já no período chuvoso, a espécie Bryconops affinis, chamada de Piaba Verde, teve o maior nível médio de concentração (0,1541 mg/kg-¹).

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Levantamento identificou 25 espécies de peixes na região ribeirinha. Foto: Reprodução/Érica Alves
Levantamento identificou 25 espécies de peixes na região ribeirinha. Foto: Reprodução/Érica Alves

Apesar da identificação do metal, os peixes analisados não apresentaram risco de contaminação capazes de causar danos à saúde humana, considerando os limites máximos permitidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que é de 0,5 mg por kg-¹ em peixes não predadores, e de 1,0 mg por kg-¹ em predadores.

"Mesmo não apresentando riscos, é preciso considerar que as comunidades ribeirinhas consomem o pescado frequentemente, sendo necessária a integração do poder público com a academia, para que as análises dessa natureza no pescado sejam feitas regularmente," destaca a engenheira de Pesca.

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Érica Alves é engenheira de Pesca e mestra em Recursos Hídricos. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Érica Alves é engenheira de Pesca e mestra em Recursos Hídricos. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

Professor de Recursos Hídricos da UFS e coordenador adjunto do Laboratório de Tecnologia e Monitoramento Ambiental, Silvânio Costa ressalta que os resultados não apontaram relação direta entre os peixes que apresentaram os maiores níveis de mercúrio e as espécies mais consumidas pela população ribeirinha.

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"Observamos também que essas espécies mais consumidas pelos ribeirinhos estão em processo de extinção nas águas do São Francisco em detrimento ao surgimento de peixes que não tem função alimentícia," alerta o professor.

O pesquisador ainda afirmou que as amostras coletadas no Baixo São Francisco também estão passando por novas análises químicas para identificar outros metais no tecido muscular dos peixes, como zinco, chumbo e cádmio.


Silvânio Costa é professor do mestrado em Recursos Hídricos da UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Silvânio Costa é professor do mestrado em Recursos Hídricos da UFS. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

LTMA

O Laboratório de Tecnologia e Monitoramento Ambiental iniciou as atividades em 2014, com o credenciamento junto à ANP (Agência Nacional de Petróleo e Gás), atuando em projetos financiados pela Petrobras, e atendendo aos estudantes de cursos de graduação e pós-graduação da UFS na área de contaminantes ambientais.

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Coordenador pelo professor Carlos Alexandre Borges Garcia, o LTMA explora pesquisas relacionadas à avaliação da qualidade da água, caracterização de sedimentos, determinação de metais, metaloides, e composição iônica, caracterização da matéria orgânica dissolvida e modelagem hidrogeoquimica.

Josafá Neto e Tauã Ferreira

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Qua, 26 de julho de 2023, 08:17
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