Qua, 04 de outubro de 2023, 21:22

Por que baixo rastreamento de casos aumenta incidência de câncer de colo de útero
Pesquisa da UFS avalia qualidade e cobertura do rastreio da doença no estado
Câncer de colo do útero é o terceiro mais comum entre as mulheres no Brasil. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Câncer de colo do útero é o terceiro mais comum entre as mulheres no Brasil. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

Sergipe deve registrar, em 2023, mais de 200 novos casos de câncer de colo de útero, de acordo com a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA). No Nordeste, a incidência é de quase 18 confirmações para cada 100 mil habitantes. Trata-se do terceiro tipo de câncer mais comum entre mulheres, no Brasil. A previsão é de 50 mil novos diagnósticos da doença até o ano 2026 no país.

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O câncer uterino - causado pela infecção genital provocada pelo papilomavírus humano (HPV) - apresenta altas taxas de cura, quando diagnosticado precocemente. Isso depende de estratégias de prevenção e diagnóstico da doença, a exemplo do exame citopatológico, popularmente conhecido como papanicolau, que deve ser feito a cada três anos, após dois exames anuais consecutivos normais.

Em Sergipe, a cobertura desse rastreamento, que permite a identificação precoce de lesões na região do útero, está abaixo da meta recomendada pelo INCA, que é de 80%. Os dados são da pesquisa de conclusão de curso da estudante Karoline Almeida, do Departamento de Medicina do Campus Professor Antônio Garcia Filho da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Entre os anos de 2015 e 2021, a plataforma SISCAN (Sistema de Informação do Câncer), do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), contabilizou 443.822 mil exames citopatológicos em mulheres, na faixa etária de 25 a 64 anos de idade, no estado. Isso significa que, no período analisado, a taxa de cobertura de rastreamento da doença ficou abaixo de 11%.

Além disso, a qualidade do rastreio do câncer uterino apresentou baixa sensibilidade para detecção precoce de lesões, pois a taxa de positividade do papanicolau, que deve ser igual ou superior a 3%, não passou de 2% no período analisado.

Nesta entrevista ao Portal UFS, a médica Karoline Almeida diz como investigou a qualidade e a cobertura do programa de rastreamento da doença, em Sergipe, e explica o que está por trás da alta incidência de casos de câncer de colo de útero no estado.

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Karoline Almeida abordou câncer de colo do útero no trabalho de conclusão de curso. Foto: Arquivo pessoal
Karoline Almeida abordou câncer de colo do útero no trabalho de conclusão de curso. Foto: Arquivo pessoal

Portal UFS - O câncer do colo uterino é a quarta principal causa de morte por câncer em mulheres no mundo. Quais são os motivos dessa alta incidência?

Karoline Almeida - A alta incidência do câncer de colo uterino é multifatorial, mas um dos fatores mais importantes são as baixas taxas de realização do exame de rastreamento, ou seja, o citopatológico. Essa alta incidência ocorre principalmente nas áreas com menor desenvolvimento, pois temos maiores dificuldades na oferta e acesso do exame citopatológico.

Portal UFS - Por que você decidiu avaliar a qualidade e a cobertura do programa de rastreamento do câncer de colo uterino no estado de Sergipe?

Karoline Almeida - Sempre me interessei muito pela área de ginecologia. E, dentro da área, o câncer de colo uterino tem destaque, bem como o rastreio, que é uma das estratégias de prevenção; pois, quando é realizado de forma adequada, pode ter grande impacto na detecção precoce e tratamento oportuno.

Portal UFS - Qual foi o recorte temporal utilizado na pesquisa? Quais dados foram levantados e analisados, a fim de avaliar o programa de rastreamento no estado?

Karoline Alves - No estudo, analisamos o período de 2015 a 2021. Os dados foram retirados da plataforma SISCAN, que é o sistema de informação do câncer. Esses dados foram tabulados e aplicados em indicadores presentes na ficha técnica de indicadores das ações de controle do câncer de colo do útero publicada pelo INCA em 2014. Esses indicadores criados pelo INCA são exatamente para avaliar a qualidade e cobertura do rastreamento.

Portal UFS - Quais foram os principais resultados da análise sobre a qualidade e a cobertura do programa em Sergipe?

Karoline Almeida - Os resultados do estudo nos mostraram que o programa de rastreio do nosso estado tem muito o que avançar, pois ainda se encontra muito aquém da meta estabelecida pelo INCA de cobertura da população alvo, ou seja, mulheres de 25 a 64 anos. Quando abordamos a qualidade dos exames realizados, percebemos que eles apresentam baixa sensibilidade na detecção das lesões devido a deficiências no processo de coleta, armazenamento e processamento do exame.

Portal UFS - Quais são as principais contribuições da pesquisa para a melhoria da tomada de decisão sobre o problema?

Karoline Alves - A partir dos resultados encontrados, podemos identificar as falhas, pensar e criar melhorias. Como, por exemplo, na questão da qualidade de coleta, armazenamento e processamento, podemos pensar em programas de educação continuada para todos os profissionais envolvidos, visando uma melhoria da sensibilidade na detecção das lesões. Além disso, durante a construção do trabalho, notei que havia poucos estudos que realizaram essa análise por meio de indicadores. Dessa forma, o meu trabalho pode servir de estímulo para novos estudos com análises de outros estados ou regiões.

Portal UFS - Como você define a importância da educação em saúde para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado do câncer?

Karoline Almeida - É imprescindível! Uma vez que, apenas quando temos o conhecimento é que podemos identificar os sinais precocemente e buscar acesso aos programas de rastreio. Também, é de suma importância que o tratamento seja sempre esclarecido e compartilhado com o paciente para melhor adesão.

Josafá Neto

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Ter, 10 de outubro de 2023, 16:43

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