Qua, 06 de setembro de 2023, 11:01

Pesquisadores da UFS documentam primeiro caso de febre maculosa em Sergipe
Estudo foi publicado em parceria com vigilâncias epidemiológicas municipal e estadual
Doença é causada pela bactéria rickettsia transmitida pelo carrapato. Foto: Ascom/Prefeitura de Jundiaí
Doença é causada pela bactéria rickettsia transmitida pelo carrapato. Foto: Ascom/Prefeitura de Jundiaí

O diagnóstico de febre maculosa de um adolescente de 15 anos, morador do Bairro Porto Dantas, na Zona Norte de Aracaju, no dia 20 de julho deste ano, foi documentado como o primeiro registro da doença em Sergipe. Isso considera o início da série histórica de notificação de casos no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde no ano de 2007.

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É o que diz o estudo publicado na última segunda-feira, 4, por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em parceria com as vigilâncias epidemiológicas municipal e estadual, na revista científica Travel Medicine and Infectious Disease, de fator de impacto 12, considerado alto.

"Esse primeiro caso registrado no estado evidencia o ciclo de transmissão da febre maculosa a partir de animais domésticos, que podem servir de amplificadores da doença, mesmo que eles não apresentem sintomas aparentes. O diagnóstico também pode ser desafiador, por conta da semelhança dos sintomas com outras doenças febris," pontua o professor de Epidemiologia e chefe do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS, Paulo Martins Filho.

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A publicação na revista científica é assinada por Paulo Ricardo Martins Filho, Marco Aurélio Góes, Cliomar Alves dos Santos, Victor Santana Santos, Sidney Lourdes Cesar Souza Sá, Rita de Cássia Carvalho Castro Teles, Taise Ferreira Cavalcante, Marina Sena da Silva Carneiro, Gabriela Vasconcelos Brito Bezerra, Ludmila Oliveira Carvalho Sena, Karine Dantas Moura e Daniela Cabral Pizzi Teixeira.


Paulo Martins Filho é professor de Epidemiologia da UFS. Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS
Paulo Martins Filho é professor de Epidemiologia da UFS. Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS

Febre maculosa

As análises também revelaram que três cães domiciliados com o paciente apresentaram resultado positivo para a bactéria Rickettsia rickettsii. O diagnóstico foi identificado pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Estado de Sergipe (Lacen-SE), ao analisar as amostras de sangue colhidas pelo Centro de Controle de Zoonoses.

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“É um achado muito importante, porque foi identificado em uma região que não é endêmica da febre maculosa. Isso reforça a importância de manter a vigilância sobre a circulação da doença, sobretudo para pessoas que vivem em contato com animais, nos perímetros silvestre ou semi-urbano”, afirma o doutor em Ciências da Saúde pela UFS e superintendente do Lacen-SE, Cliomar Alves.

A doença é transmitida pelo carrapato-estrela ou micuim ao ser infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii. Esse tipo de carrapato é normalmente encontrado em cachorros, mas se trata da espécie Amblyomma cajennense, que também pode ser identificada em bois, cavalos, cães, aves domésticas, gambás, coelhos e capivaras.

“Apesar do paciente identificado não ter desenvolvido a forma grave da doença, isso pode ocorrer, por exemplo, em pessoas imunodeprimidas ou que não buscam tratamento adequado. Então, não alerta só as vigilâncias em saúde, mas também os profissionais de saúde que atendem pessoas com histórico de picada de carrapatos ou outros vetores que podem transmitir a doença,” acrescenta Cliomar Alves.


Cliomar Alves é doutor em Ciências da Saúde pela UFS e superintendente do Lacen. Foto: Ascom/SES
Cliomar Alves é doutor em Ciências da Saúde pela UFS e superintendente do Lacen. Foto: Ascom/SES

De janeiro de 2007 a julho deste ano, o Brasil registrou 2.941 notificações da doença, tendo 949 mortes, segundo dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Mais da metade dos casos ocorreram na região Sudeste do país. No Nordeste, foram confirmados 55 registros de febre maculosa neste período, sendo 5 deles nos primeiros sete meses de 2023.

O caso

O adolescente procurou atendimento na urgência do Hospital Regional José Franco Sobrinho, localizado no município de Nossa Senhora do Socorro, na Grande Aracaju, no dia 19 de junho deste ano. Ele apresentou histórico de cinco dias de febre, náusea, dor de cabeça, dor abdominal, mialgia, prostração, astenia e tosse.

"Essa identificação traz a necessidade de mais estudos na região geográfica do diagnóstico para que possamos de fato delimitar se foi uma transmissão esporádica ou se trata-se de uma potencial área de transmissão da febre maculosa", ressalta o professor de Medicina da UFS e diretor de Vigilância em Saúde do Estado, Marco Aurélio Góes.

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De acordo com o Centro de Informações Estratégicas em Saúde da Secretaria de Saúde de Aracaju, o resultado da primeira coleta de PCR (Polymerase Chain Reaction) deu positivo para chikungunya no dia 22 de junho. O diagnóstico de febre maculosa saiu um mês depois com o resultado do exame de biologia molecular.

A suspeita da contaminação a partir do carrapato surgiu após mãe do paciente informar que ele convive diariamente com cavalos, cães e galinhas. Depois de cinco dias internado para tratamento, o adolescente recebeu alta do hospital e está recuperado da doença.

Josafá Neto

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Qua, 06 de setembro de 2023, 11:04

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