Há sete anos, a rotina de Indianara Almeida mudou radicalmente com o nascimento da primeira filha. Natural de Itabaiana, no Agreste Sergipano, ela pediu demissão do emprego e trancou o curso de enfermagem para se dedicar a cuidar integralmente de Sophia.
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A filha de Indianara é uma das 1.857 crianças diagnosticadas com a síndrome congênita associada à infecção pelo Zika vírus nos últimos 8 anos no Brasil, segundo dados da Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde. Mais da metade desses casos ocorreram somente em 2015, ano de nascimento de Sophia.
Desde a explosão da transmissão da doença em 2015, ela é uma das 70 crianças com a síndrome congênita acompanhadas por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), no Hospital Universitário de Aracaju (HU).
O coordenador do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS, professor Paulo Ricardo Martins Filho, pontua que as repercussões clínicas dessa condição em saúde vão desde a alta prevalência de distúrbio do sono à recorrência de hábitos de sucção não nutritivos, como sugar dedos, lábios, língua e objetos.
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"Nossos resultados também confirmam que a perda do trabalho remunerado tem sido associado a piora da saúde mental dessas mães, mostrando a necessidade do fortalecimento de políticas públicas que visem reduzir o impacto econômico da doença nas famílias, bem como a obrigação de oferecer aconselhamento multidisciplinar e implementar estratégias psicoeducacionais para promover o ajuste psicológico materno", acrescenta o professor.
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Há dois anos, a odontopediatra Raquel Marques conduz uma pesquisa no doutorado do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFS, com foco em avaliar os impactos das condições bucais na qualidade de vida de crianças com síndrome congênita associada à infecção pelo Zika vírus.
"Além do acompanhamento pediátrico e fisioterapêutico, a condição de saúde dessas crianças exige cuidados em relação à saúde bucal. Por isso, a nossa hispótese é que essas crianças são mais afetadas na condição bucal, devido a fatores como dificuldades motoras e uso de medicações," ressalta a doutoranda.
Este estudo envolve a população na faixa etária entre 5 e 7 anos de idade. Além da avaliação bucal, um questionário socioeconômico é aplicado com as cuidadoras, a fim de colher informações sobre o impacto da doença na rotina das famílias ao longo do desenvolvimento das crianças.
A pesquisa também investiga os efeitos da síndrome congênita na função motora e nos hábitos alimentares de crianças. Segundo a doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde na UFS, Carolina Tavares, "uma das primeiras conclusões é que a baixa funcionalidade das crianças está associada a piora da saúde mental das cuidadoras".
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"Esses trabalhos têm sido importantes por permitirem mudanças na forma como as mães de crianças com microcefalia passaram a ser acompanhadas por equipes de saúde e assistência social desde o início da epidemia até os dias atuais", complementa o professor Paulo Ricardo Martins Filho.
Síndrome Congênita do Zika (SCZ)
Trata-se de um conjunto de anomalias congênitas envolvendo alterações visuais, auditivas e neuropsicomotoras que ocorrem em embriões ou fetos infectados pelo Zika vírus durante a gestação.
Apesar da forma mais comum de transmissão da infecção pelo vírus Zika em mulheres grávidas ser através da picada pela fêmea do mosquito Aedes aegyptié, é possível ocorrer por meio da relação sexual com pessoas infectadas.
Josafá Neto
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