Combater o racismo na primeira infância é um desafio que envolve diretamente pais e responsáveis. Entre pais de crianças brancas, 53,3% deles não falam sobre o assunto com seus filhos. É o que aponta uma pesquisa de doutorado em Psicologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
O psicólogo Ueliton Moreira chegou a essa conclusão ao entrevistar 140 mães e pais com idades que variaram de 22 a 58 anos, nos estados de Sergipe e Bahia. 61,4% deles se declararam pardos, 20,7% brancos e 17,9% pretos.
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Apenas 30% deles afirmaram conversar frequentemente sobre o tema, enquanto que 16,7% disseram ter conversas apenas ocasionalmente. Por outro lado, a maioria dos pais de crianças pardas (64,7%) e pretas (56%) informaram que falam sobre racismo com os filhos frequentemente.
Os pais foram questionados se: “Você conversa com o seu filho (a) sobre o racismo?” Eles responderam a uma escala de frequência que variava entre nunca (1) a muito frequentemente (5). Em seguida, eles relataram os conteúdos presentes nessas conversas ou os motivos para não conversarem.
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O pesquisador explica que os pais que não conversam sobre o tema apontaram cinco barreiras para dialogar sobre racismo: (1) não saber como conversar; (2) acreditar que as crianças são muito pequenas para essas conversas; (3) conceber que somos todos iguais e que raça não é importante; (4) acreditar que falar sobre racismo é irrelevante para as crianças brancas e (5) temer que falar sobre racismo aumente o preconceito e torne as crianças racistas.
Já os pais que conversam sobre o racismo relataram cinco estratégias para abordar o tema com as crianças: (1) explicando as diferenças raciais e promovendo o respeito pela diversidade; (2) conversando sobre racismo e discriminação; (3) incentivando a inclusão e as amizades multirraciais; (4) apresentando referências negras e indígenas positivas e (5) fortalecendo a identidade e a autoestima das crianças negras.
“É preciso estabelecer um diálogo aberto e honesto com pais e responsáveis conversando com seus filhos sobre as diferenças raciais; apresentar às crianças referências positivas de pessoas negras e indígenas em diversas áreas, como na história, cultura, ciência e política; e incentivar a inclusão e as amizades entre crianças de diferentes origens raciais”, propõe o pesquisador.
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O trabalho foi desenvolvido junto ao Grupo de Pesquisa Socialização das Relações Intergrupais e Racismo (GPSAIR), que investiga a socialização étnico-racial desde o ano 2000, sob a coordenação da professora Dalila Xavier de França.
“A pesquisa sobre socialização étnico-racial contribui para a valorização de si mesmas nas crianças negras e para a redução do racismo e da intolerância das crianças brancas”, destaca Dalila Xavier.
“Os resultados mostram que todos os grupos étnico-raciais são corresponsáveis por mostrar às crianças que na sociedade há espaço para todos conviverem harmoniosamente, e pais brancos devem participar dessa tarefa promovendo uma educação antirracista para suas crianças”, complementa a professora.
Prêmio Ciência pela Primeira Infância
Com o título “Como conversar com as crianças sobre raça e racismo: experiências de famílias brasileiras”, a tese foi uma das cinco vencedoras da segunda edição do Prêmio Ciência pela Primeira Infância, promovido pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI). Ao todo, segundo o NCPI, este ano 150 trabalhos de mestrado e doutorado concorreram ao prêmio.
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O Prêmio tem como objetivo reconhecer pesquisadores da primeira infância, promovendo a disseminação de conhecimento científico para sensibilizar agentes da gestão pública e apoiando, com base em evidências, a qualificação de políticas, programas e ações voltados a crianças de até 6 anos e suas famílias.
A premiação é concedida pelo Núcleo Ciência pela Infância, que é uma coalizão que trabalha para sensibilizar, mobilizar e capacitar lideranças para fortalecer e qualificar programas e políticas públicas direcionadas ao enfrentamento das desigualdades que afetam as crianças.
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