Qua, 09 de outubro de 2024, 11:34

Erosão faz rio avançar 130m em 10 anos e ameaça Praia do Saco, diz pesquisa da UFS
Pesquisadores do Laboratório de Progeologia da UFS monitoram litoral sergipano
Erosão costeira provoca destruição de imóveis às margens do Rio Piauí. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Erosão costeira provoca destruição de imóveis às margens do Rio Piauí. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

A erosão costeira na Praia do Saco, no município de Estância, no litoral sul de Sergipe, fez as águas do Rio Piauí avançarem 130 metros sobre a própria margem nos últimos 10 anos. É o que revela um levantamento de pesquisadores do Laboratório de Progeologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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O dano mais recente do aumento da força da água fluvial foi o desmoronamento de uma residência construída na foz do rio. Apenas uma estrada de chão batido divide a casa de praia destruída de uma APP (Área de Preservação Permanente).

A ocupação imobiliária do local começou há cerca de 50 anos. De acordo com o geocientista e pesquisador do Laboratório de Progeologia, Júlio César Vieira, a construção de imóveis ocupou uma barra arenosa que separava a foz de um manguezal.


Linhas vermelhas nas imagens de satélite indicam avanço do rio. Foto: Reprodução/Google Earth
Linhas vermelhas nas imagens de satélite indicam avanço do rio. Foto: Reprodução/Google Earth

"Essas consequências vistas hoje justamente na área conhecida como Ponta do Saco eram previsíveis diante da própria dinâmica do rio, porque se trata da ocupação humana em um lugar instável geologicamente falando," explica Júlio César Vieira.

Quebra-mares

O uso inadequado de pedras para impedir o avanço do mar na faixa de areia também acelerou o processo de erosão. Segundo o pesquisador do Laboratório de Progeologia, o quebra-mar acaba empurrando a energia das ondas do mar para a foz do rio.

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"As margens sergipanas do estuário são totalmente preenchidas com quebra-mares feitos em grande parte de forma individual e sem nenhum critério técnico. Isso fornece uma proteção parcial às residências alvo, mas acabam por transferir a energia das ondas e correntes para outro local," pontua Júlio.


Júlio César Vieira é pesquisador do Laboratório de Progeologia da UFS. Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS
Júlio César Vieira é pesquisador do Laboratório de Progeologia da UFS. Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS

Os pesquisadores do Laboratório de Progeologia da UFS estão realizando ainda a batimetria da foz do Rio Piauí, que é a medição da sua profundidade. O objetivo é verificar se o quebra-mar também está provocando o aprofundamento do canal do rio.

"Se encontrarmos um canal muito profundo no estuário, principalmente próximo às casas, teremos uma situação de risco muito grave. Essa análise será feita nas próximas duas semanas e enviada aos órgãos competentes, como a Defesa Civil Estadual", ressalta o geocientista.

Rio x Mar

Enquanto a porção de terra às margens do Rio Piauí praticamente desapareceu na última década com o avanço das águas na região da foz, o levantamento mostra que a faixa de areia à beira mar do lado sergipano aumentou 180 metros no período analisado.

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Imóvel destruído na foz do Rio Piauí fica próximo a manguezal. Foto: Acervo/Laboratório de Progeologia
Imóvel destruído na foz do Rio Piauí fica próximo a manguezal. Foto: Acervo/Laboratório de Progeologia

Em 1992, a distância entre a região da Ponta do Saco, em Sergipe, e o Pontal de Mangue Seco, na Bahia, era de aproximadamente 3.000 metros. Hoje ela chega a 5.500 metros. Ou seja, a distância entre as duas margens praticamente dobrou em cerca de 30 anos.

"Nós temos dois rios de duas bacias completamente distintas, Real e Piauí, desembocando no mesmo ponto do Oceano Atlântico. Uma das principais consequências disso é um estuário extraordinariamente largo. Qualquer intervenção desastrada pode intensificar ainda mais este processo," finaliza o pesquisador.

Josafá Neto

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Qua, 09 de outubro de 2024, 12:30

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