"[...] As moças do São Francisco,
é um céu e um cabedá;
Deus me mandando uma delas,
pode o mundo se acabá,
se não fosse essas caboclas,
não tinha graça o sertão:
não brigava os cangaceiro,
não havia Lampião [...]"
(As moças do São Francisco, de Alexandre Zabelê)
A poesia em cordel serviu de inspiração para a professora de História, Lidiane Metodio dos Santos, começar a pesquisar o protagonismo feminino no movimento social que marcou a região Nordeste do Brasil até o final da década de 1930: o cangaço.
A partir das biografias das cangaceiras Maria Gomes de Oliveira - Maria Bonita - e Ilda Ribeiro de Souza - Sila, a professora da educação básica desenvolveu a pesquisa no Mestrado em Ensino de História na Universidade Federal de Sergipe (UFS), sob orientação do professor Paulo Heimar Souto.
Biografias
Maria Bonita e Sila foram duas das mais de 30 cangaceiras do bando de Lampião. Maria foi assassinada na emboscada que matou o líder do movimento no ano de 1938. Naquela ocasião, Sila também estava no cerco, mas conseguiu fugir, vindo a falecer 67 anos depois.
“A história de vida delas se contrapõe. Enquanto Sila foi raptada por Zé Sereno, vítima de um abuso sexual, entrando no cangaço à força, Maria Bonita entrou no movimento por paixão por Lampião e teve um caráter transgressor”, diz a pesquisadora, ao justificar a escolha das duas biografias.
Aventuras no Sertão
Ao defender a humanização do cangaço por meio da inserção das mulheres, Lidiane Metodio criou a HQ intitulada “Matheus e Eloisa em: As aventuras no Sertão de Maria Bonita e Sila”. A história em quadrinhos é ambientada nas proximidades da Grota do Angico.
Matheus e Eloisa são dois estudantes que, durante um sonho, estão perdidos em meio a Caatinga no Sertão Nordestino e acabam se esbarrando com Maria Bonita e Sila. Os dois são confundidos pelas duas cangaceiras com espiões do bando de Lampião, o que é desfeito ao longo do sonho.
“É preciso destacar ainda o desafio de trabalhar o material didático no ensino de história por professores da área, não apenas a partir do papel da mulher e do homem, mas explorar também aspectos geográficos e sociais de um determinado tema”, acrescenta o professor.
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A proposta, segundo a mestra em Ensino de História, é disseminar a HQ como recurso didático para o ensino de história na educação básica, a fim de facilitar o processo de ensino-aprendizagem sobre o protagonismo das mulheres no movimento social.
“A partir de agora esperamos divulgar o material nas escolas por meio de editais, a exemplo do Programa Nacional do Livro e do Material Didático, possibilitando a aproximação entre o leitor e o assunto abordado e ressignificado o papel da mulher,” projeta Lidiane Metodio.
Josafá Neto
Rádio UFS
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