João Ramon Santos Silva é morador de Bonsucesso, povoado ribeirinho de Poço Redondo (SE), no Alto Sertão. Filho de pescador e participante passivo da atividade de pesca, o rapaz sempre teve o intuito de fazer algo por suas raízes. Enquanto cursava o módulo de Tecnologias de Produtos de Origem Animal, coordenado pela professora Acenini Balieiro, no curso de Agroindústria do campus do Sertão da UFS, em Nossa Senhora da Glória, algo chamou a sua atenção: era possível produzir hambúrguer e almôndega a partir de pescados e, como na comunidade havia algumas espécies sem valor comercial, como o caboje, Ramon contou para a professora sobre a possibilidade de beneficiar esse insumo, agregando valor e gerando renda, além de congregar as mulheres dos pescadores à atividade.
A partir dessa conversa nasceu a ideia de uma oficina de beneficiamento de pescado para capacitar comunidades ribeirinhas do São Francisco com conhecimentos de boas práticas de manipulação e conservação.
“Sempre disse que se eu entrasse na UFS e não fizesse algo a favor dos ribeirinhos não iria cumprir meu dever de cidadão. Sou do rio, filho de pescadores e agricultores e sempre meu intuito foi trazer conhecimento a meu povo. A troca de conhecimentos com as pescadoras foi o ponto alto da formação. Como estudante do curso de bacharelado em Agroindústria me sinto lisonjeado em fazer parte dessas trocas de conhecimentos e saberes com essas mulheres especiais”, relata o estudante, que está no último ano do curso.
As oficinas aconteceram em outubro e dezembro 2021 na sede da Associação de Pescadores de Olho d’Água do Casado (AL) na divisa com Poço Redondo. Ambos os municípios fazem parte da unidade de conservação do rio São Francisco MoNa (Monumento Natural do rio São Francisco), que tem como objetivo a preservação da sua bacia. Ministradas pela professora Acenini, João Ramon e seus colegas de curso Leandra Maria Santos e Samuel Carlos Pereira, os encontros juntaram pescadores e artesãos das duas comunidades. Dentre os objetivos, destacam-se a necessidade de expor as regras de higiene dos alimentos e como as condições de manuseio e conservação influenciam na qualidade e estabilidade do peixe que, por ser muito perecível, necessita de cuidados desde a captura até a chegada ao consumidor.
Trata-se de uma ação de extensão que aconteceu em duas etapas: a primeira com um número maior de pescadores e a segunda com um grupo específico de mulheres. Na ementa constou ainda como se dá o processo de elaboração de linguiça, almôndega e hambúrguer, todos de peixe.
De Bonsucesso, Quitéria Gomes Pereira atua como conselheira da Pastoral de Pescadores em Olho d’Água do Casado. Ela foi uma das participantes. “O projeto de beneficiamento do pescado chegou como uma porta a se abrir para as pescadoras e pescadores e suas famílias. O curso ministrado pela professora Acenini possibilitou uma nova alternativa de geração e complementação da renda familiar e hoje os pescadores e pescadoras de Olho d'Água estão agregando valor ao caboje, que existe em grande quantidade na região e até então não tinha valor comercial. Tanto eu quanto as pescadoras já conhecíamos o beneficiamento de outros produtos, mas não do pescado. Esse conhecimento é muito importante, pois por conta de diversos fatores estamos com poucas espécies disponíveis. O beneficiamento de pescados só veio agregar [ao nosso trabalho]”, declara.
Outro líder comunitário que participou da ação foi José Adailton da Silva, da Associação de Pescadores de Olho d’Água do Casado. “Hoje nós temos um grupo de mulheres capacitadas para fazer o beneficiamento dos pescados. Graças as oficinas conseguimos fazer tanto o beneficiamento do caboje quanto de outras espécies. Estamos nos desenvolvendo, e é esse o nosso objetivo: buscar melhorias para os nossos pescadores, inclusive na renda”.
Nova oficina
Há mais um encontro com data prevista para março de 2022. Para participar é preciso atuar no âmbito da pescaria e efetuar a inscrição, que ainda não foram abertas, por meio da plataforma utilizada pela Universidade Federal de Sergipe, o Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa).
Tatiane Macena (bolsista)
Luiz Amaro (edição)
comunica@academico.ufs.br