Qua, 03 de novembro de 2021, 12:00

Projeto da UFS desenvolve produtos audiovisuais e textuais para o ensino da dança de matriz africana
Foram criados seis vídeos, dois artigos e dois relatos de experiências
Cena do vídeo “Cal(mar)ria”.  (fotos: reprodução)
Cena do vídeo “Cal(mar)ria”. (fotos: reprodução)

Desenvolver produtos audiovisuais e textuais abordando a criação de mitopoéticas corporais/cênicas e metodológicas para o ensino da dança de matriz africana a partir de palestras com alguns sacerdotes de religiões dessa origem. Esse é o objetivo do projeto encabeçado pela professora Clécia Queiroz, do Departamento de Dança (DDA) da UFS, campus de Laranjeiras.

Acesse as palestras e os vídeos

Para além de dar mais voz ao debate sobre essas questões, a ideia é que esses materiais didáticos sejam postados em redes sociais e amplamente divulgados. Posto em prática em setembro de 2020, em plena pandemia, o projeto encontra-se em fase de conclusão.

“Ele foi concebido em agosto de 2020, cinco meses depois de a pandemia ter se instalado assustadoramente no nosso país, e começamos a trabalhar no mês seguinte. Até ali vivíamos a insegurança, o medo do outro, do estar perto, do conviver e, mais ainda, assistíamos a morte de amigos, parentes e víamos o desemprego se alastrar violentamente entre nós. E o projeto foi um importante suporte para uma guerrilha diária que trabalhávamos para continuarmos com a esperança e crença em dias melhores”, explica Clécia.


Cena do vídeo "Cabra macho das águas".
Cena do vídeo "Cabra macho das águas".

Teve como vice-coordenador o professor do DDA Daniel Moura e contou com a colaboração de oito estudantes do curso, sendo sete voluntários e uma bolsista.

Realizaram-se dez palestras virtuais com 11 sacerdotes e sacerdotisas de religiões de matriz africana originários de Sergipe, Bahia, Piauí e Rio de Janeiro entre os dias 16 de setembro e 29 de outubro com duração de duas horas cada uma.

Os encontros, mediados pelos coordenadores do projeto, ocorreram pela plataforma Zoom. “Os depoimentos traduziram um tanto da vida pessoal e comunitária de cada um deles e revelaram a poesia existente no que fazem e sentem'', expressa Clécia.

Segundo ela, as salas virtuais tiveram uma média de 60 participantes inscritos, recebendo, entretanto, visitantes e convidados dos próprios palestrantes, atingindo um total de cerca de 300 pessoas.

Produtos audiovisuais e textuais


Cena de "Três momentos, Yemanjá".
Cena de "Três momentos, Yemanjá".

Seis vídeos de dança – criados a partir das explanações dos palestrantes e dos debates realizados pelos discentes do projeto e pelo professor Daniel Moura –, dois artigos e dois relatos de experiências constam como resultados do projeto. “Eles versaram [os vídeos] em sua maioria sobre Iemanjá, mas um deles foi dedicado a Nanã e outro abordou o mito da criação na cosmovisão dos iorubás”, relata a coordenadora. “Os artigos ainda não foram publicados. Estamos aguardando o congresso da Associação Nacional de Dança (Anda) de 2022, pois se aprovados serão publicados em livro”, complementa.

Ainda segundo a professora, o trabalho desenvolvido pelos alunos constitui um elemento muito importante para a carreira acadêmica e futura vida profissional deles. “Os estudantes precisaram sair da sua zona de conforto e mergulhar em uma pesquisa que envolvia não apenas a realização das mitopoéticas não almejadas, mas também a criatividade e persistência para lidar com as novas tecnologias. Por outro lado, os participantes produziram conhecimento a partir do compartilhamento da sabedoria ancestral, dos povos iorubás efon, relacionada aos orixás e inquices”.


Evento contou com dez palestras de 16 de setembro a 29 de outubro. (imagens: divulgação)
Evento contou com dez palestras de 16 de setembro a 29 de outubro. (imagens: divulgação)

“Esses estudos foram fundamentais para reflexões sobre ancestralidade, diversidade, racismo e ética dos povos e isso se reverterá significativamente nas contribuições artísticas dos nossos estudantes e para a vida das pessoas que usufruíram das palestras e discussões com os 11 sacerdotes e sacerdotisas de religiões de matriz africana no Brasil”.

Para o estudante Leando Matos, do terceiro período, “participar do Mitopoéticas foi a oportunidade que tive de aprender a reconhecer minhas limitações, principalmente quando essa aprendizagem está associada ao universo da cultura africana e suas diásporas, porque são conhecimentos que foram e infelizmente ainda são negados na sociedade e, consequentemente, nas escolas”.

“É preciso pontuar que essa iniciativa também permitiu diálogos que podem resultar na quebra de paradigmas e preconceitos, como no caso da intolerância religiosa e racismo”, complementa o estudante.

Mitopoética: o que é


Mitopo tica card 2

O projeto, denominado “Mitopoéticas Cênicas e Metodologias Afrocentradas”, consiste em uma proposta do grupo de pesquisa Encruzilhada: Corpo, Movimento, Poesia e Ancestralidade, também coordenado por Clécia.

De acordo com a professora, o termo "mitopoética'' possui diversas definições, entre elas (a assumida no projeto), a que o relaciona com o estudo de como os mitos são feitos ou o próprio fazer dos mitos.

“Como a nossa pesquisa foi sobre a mitologia dos orixás e inquices, divindades dos candomblés das nações ketu e angola, respectivamente, a nossa ideia é realizar trabalhos artísticos de dança que partem dessas mitologias para criativamente e simbolicamente assumir a contemporaneidade e, ao mesmo tempo, associar sonho e corpo, imagens que se traduzem em poesia em movimento”.

Jaynne Pereira (Estágio Supervisionado em Jornalismo)

Luiz Amaro (edição)

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Qua, 03 de novembro de 2021, 12:18
Notícias UFS