A síndrome de ardência bucal (SAB) tem público alvo bastante definido: mulheres no pós-menopausa representam quase 90% dos casos. Não há cura, mas o alívio pode ser trazido com algumas medidas terapêuticas da área de Odontologia. Uma delas é o laser de baixa frequência. Para compreender a abordagem dos estudos científicos sobre esse tipo de laser na SAB, o professor Felipe Matos, do Departamento de Odontologia do campus de Lagarto produziu o artigo “Efficacy of the laser at low intensity on primary burning oral syndrome: a systematic review”, em parceria com outros autores, publicado no periódico “Medicina Oral, Patologia Oral, Cirugia Bucal”.
Na síndrome de ardência bucal, os pacientes costumam apresentar dor na mucosa bucal, alteração na sensibilidade e sensação de boca seca. O laser é um recurso amplamente utilizado nos consultórios odontológicos, mas seus tipos guardam particularidades. O laser de alta frequência, por exemplo, é capaz de produzir cortes na gengiva, sendo inclusive aplicado em pequenas cirurgias, em substituição ao bisturi.
Felipe explica que ainda não há comprovação sobre o motivo de a síndrome bucal atingir massivamente mulheres na menopausa, mas que os estudos indicam que a síndrome pode estar relacionada aos hormônios femininos. “Quando a mulher entra na menopausa, as taxas de estrogênio diminuem e alguns trabalhos mostram que o hormônio atua na revitalização da mucosa oral, mas isso ainda não está comprovado”, observa. Outra linha de abordagem é a origem neuropatológica da dor, relacionadas ao “nervo trigêmeo”, responsável pelas sensações de cabeça e pescoço.
Por ainda existirem lacunas na comprovação científica e por apresentar sintomas semelhantes a outros problemas de saúde bucal (na área de Saúde, uma síndrome é caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas), o diagnóstico da SAB nem sempre é fácil de ser obtido. “É um diagnóstico por exclusão. Você tem que investigar se a pessoa tem outras condições sistêmicas que podem mimetizar uma síndrome de ardência bucal. Por exemplo, a boca seca pode ser outras coisas, como lúpus, diabetes, candidíase oral ou ausência de vitamina B12. Depois de fazer exames e descartar tudo, temos que somar os outros sintomas clínicos”, pondera o docente. Além do laser, outras estratégias podem ser utilizadas para alívio da ardência bucal, como a utilização de medicamentos ansiolíticos, receitados por médicos psiquiatras.
O laser já foi, inclusive, utilizado na Clínica-Escola de Odontologia do campus de Lagarto, com uma paciente com síndrome de ardência bucal, antes da pandemia de covid-19. “O ideal é fazer a aplicação diariamente, mas por causa da atividade da clínica, a paciente recebia essa aplicação uma vez por semana. E mesmo assim, a paciente alcançou resultados satisfatórios”, pontua. No campo dos estudos acadêmicos, a falta de padronização dificulta o entendimento sobre a utilização do procedimento em diversos países. “Há uma quantidade razoável de estudos, mas as variáveis não estão com a devida padronização. Existem comprimentos de onda [do laser] diferentes, potência e tempo de aplicação. Tem gente aplicando 10 segundos e tem gente aplicando três minutos, por exemplo. A gente precisa ter trabalhos seguindo o mesmo protocolo. Só com isso seria possível realizar uma metanálise com um veredito final”, conclui.
Além do professor Felipe, assinam o artigo os pesquisadores Ana Liz Pereira e Ingrid Santana, da Universidade Federal de Sergipe, e Pedro Urquiza e Luis Paranhos, da Universidade Federal de Uberlândia.
Ana Laura Farias
Campus de Lagarto