‘Tentativas de suicídio’ é o tema do trabalho do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) desenvolvido pelos estudantes de Serviço Social Laíssa Oliveira e Luís Gabriel Rodrigues, orientados pela professora Vânia Carvalho. Uma temática cuja relevância se impõe neste mês em função do Setembro Amarelo, período dedicado ao debate sobre a prevenção do suicídio.
A pesquisa aborda não somente as tentativas de suicídio como também o ato consumado e a correlação desses eventos com a automutilação e o perfil desses personagens. Segundo Vânia, o suicídio é um tema sensível e visto como tabu na sociedade, apesar de a prática ser recorrente desde os primórdios.
“Esse tema já foi muito banido pela sociedade. Antigamente, as pessoas que cometiam suicídio não eram enterradas em cemitérios comuns e as heranças eram perdidas para o estado. A sociedade considerava o suicídio como uma grande infração e algumas religiões até hoje o consideram como pecado. Então, ainda convivemos com essa ideia de banir o assunto”, explica a pesquisadora do Departamento de Serviço Social.
O trabalho
A pesquisa se subdivide em dois planos de trabalho. O primeiro deles é o de Laíssa, que em suas análises descreveu o perfil epidemiológico das pessoas que mais tentam ou chegam a consumar o suicídio no Brasil. Para chegar aos dados, a bolsista utilizou o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), uma plataforma do Datasus que fornece algumas variáveis como raça, cor, gênero, faixa etária e escolaridade da vítima.
“O que chamou nossa atenção foi a predominância das mulheres nas tentativas de suicídio, só que os homens consumam a prática com mais frequência”, explica Laíssa.
Já o segundo plano de trabalho focou em buscar a relação entre automutilação e as tentativas de suicídio. O responsável pelo desenvolvimento da pesquisa foi Luís Gabriel, que explicou o que motiva uma pessoa a ter esse tipo de comportamento, do ponto de vista psicológico. O método utilizado pelo estudante foi o mesmo de Laíssa, coleta de dados no Sinan, e estudo de causas.
“A automutilação ocorre como uma válvula de escape para a pessoa fugir do sofrimento psicológico, que é tão forte e constante, o qual ela prefere transferir essa dor psíquica para uma dor física”, diz.
Após essa coleta de dados, os pesquisadores, agora, dedicam-se à literatura com o intuito de desenvolver as possíveis razões de tais comportamentos. As explicações ainda são preliminares.
Ajuda psicológica
O suicídio é considerado pelo Ministério da Saúde como um problema de saúde pública, mas que, apesar de grave, pode ser prevenido. Esse é um dos principais objetivos do Centro de Valorização da Vida (CVV), associação civil sem fins lucrativos criada em São Paulo em 1962 e reconhecida como de utilidade pública federal.
A organização presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. O serviço atende pelo número 188, que funciona gratuitamente 24 horas por dia, todos os dias da semana.
“É dessa forma, conversando, ouvindo, com empatia e respeito, que vamos conseguir mudar os números de suicídio no nosso país. Então, se você está precisando conversar ligue para o CVV, ligue 188. Lembre-se que falar sempre é a melhor solução”, afirma Erna Barros, coordenadora do CVV de Aracaju.
Embora as campanhas sejam louváveis, a professora Vânia alerta que o debate sobre o suicídio e sua consequente prevenção não pode se limitar a um único período do ano. “Minha sugestão é que a gente não trate esse assunto apenas em setembro. Nesse mês a gente evidencia, é o mês dedicado à prevenção e divulgação dos serviços. Outra questão que merece destaque é tratar as pessoas envolvidas no episódio de suicídio, no caso, as famílias e amigos”.
Mira Marques (TV UFS)
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