Qui, 26 de agosto de 2021, 09:38

Pesquisadores desenvolvem bioplástico a partir de resíduos de cana-de-açúcar e sementes de mangaba
Além do baixo custo, materiais são facilmente encontrados no Nordeste
Trabalho foi desenvolvido durante um ano no Laboratório de Análises Cromatográficas da UFS, no campus de São Cristóvão. (fotos: Caio Ribeiro/Decav UFS)
Trabalho foi desenvolvido durante um ano no Laboratório de Análises Cromatográficas da UFS, no campus de São Cristóvão. (fotos: Caio Ribeiro/Decav UFS)

Em nosso cotidiano o plástico está sempre presente, seja nos talheres descartáveis que usamos ao pedir comida em casa, seja nas sacolas que trazemos as compras do mercado, e em vários outros contextos. Em 2019, conforme dados da pesquisa "Índice de Fabricantes de Resíduos de Plásticos" (em inglês), publicada pela Fundação Minderoo, da Austrália, 130 milhões de toneladas de plásticos descartáveis foram jogados fora em todo o mundo, sendo que 35% foram queimados, 31% disponibilizados em aterros gerenciados e 19% despejados diretamente na terra ou no oceano.

Preocupado com os inúmeros problemas ambientais causados pelo excesso de resíduos gerados pelo ser humano, o estudante Carlos Fernando de Souza Santos, sob a orientação da professora Lisiane dos Santos Freitas, ambos do Departamento de Química (DQI), recém-concluiu a produção de um bioplástico biodegradável e comestível produzido a partir de resíduos de cana-de-açúcar e sementes de mangaba.


“Decomposição dos materiais acontece através de enzimas bacterianas e outros microrganismos como fungos e algas”, diz o estudante de Química Carlos Fernando.
“Decomposição dos materiais acontece através de enzimas bacterianas e outros microrganismos como fungos e algas”, diz o estudante de Química Carlos Fernando.

Os recursos agroindustriais utilizados, explicou o estudante, além de terem baixo custo, são facilmente encontrados na região Nordeste e seriam utilizados como ração para animais ou descartados caso não fossem utilizados no desenvolvimento do bioplástico.

Um ano de trabalho intenso no Laboratório de Análises Cromatográficas da UFS, no campus de São Cristóvão, foi necessário para que resultado fosse alcançado. As fases do trabalho incluíram a realização de estudo bibliográfico, coleta da matéria-prima em feiras livres, higienização e testagens com plastificantes e secagem.

O jovem explica que o foco do trabalho foi encontrar uma alternativa ecologicamente viável para substituir o plástico convencional produzido a partir de polímeros derivados do petróleo geralmente empregados na produção do plástico comum, os quais são de difícil decomposição e, portanto, extremamente prejudiciais ao meio-ambiente.


O plástico convencional é oriundo do petróleo; já o bioplástico biodegradável e comestível produzido na UFS utiliza recursos que seriam utilizados como ração para animais ou descartados.
O plástico convencional é oriundo do petróleo; já o bioplástico biodegradável e comestível produzido na UFS utiliza recursos que seriam utilizados como ração para animais ou descartados.

Um exemplo de quão demorado pode ser o processo de decomposição de um material produzido com plástico comum é o canudo, que pode levar até 200 anos. Ele se fragmenta lentamente em pedaços menores, podendo ser confundidos com alimentos e serem acidentalmente ingeridos por animais.

“A procura por materiais plásticos com tempo de vida pós-consumo reduzido em relação aos convencionais tem incentivado pesquisadores de todo o mundo. Assim, temos hoje o bioplástico biodegradável. A decomposição desses materiais acontece através de enzimas bacterianas e outros microrganismos naturais como fungos e algas”, explicou Carlos Fernando, bolsista do programa de iniciação em desenvolvimento tecnológico e inovação (Pibiti).

Meninas na Ciência


A ideia da pesquisa surgiu do projeto “Meninas na Ciência”, realizado em cinco escolas públicas, explica a orientadora Lisiane dos Santos Freitas, do DQI.
A ideia da pesquisa surgiu do projeto “Meninas na Ciência”, realizado em cinco escolas públicas, explica a orientadora Lisiane dos Santos Freitas, do DQI.

A orientadora do trabalho, a professora Lisiane, do DQI, explica que o ponto de partida para a realização da pesquisa que levou ao bioplástico surgiu do projeto “Meninas na Ciência” que ela coordenava em cinco escolas públicas do estado, sendo uma delas o Centro de Excelência dr. Edélzio Vieira de Melo, situada em Santa Rosa de Lima, a 50 quilômetros de Aracaju.

Na ocasião, as jovens estudantes Maria Eloíza, Leila Kauane, Sirley Mendonça e Eline Santana, coorientadas pela professora Laís Menezes, iniciaram a produção preliminar de um bioplástico, mas esbarraram na falta de estrutura laboratorial para dar continuidade aos trabalhos. Diante do entrave, a solução foi a criação de um projeto Pibiti na UFS, com a possibilidade de as alunas acompanharem todo o processo de elaboração do bioplástico.


Experiência do projeto Meninas na Ciência no Centro de Excelência dr. Edélzio Vieira de Melo, em Santa Rosa de Lima. (foto: arquivo pessoal)
Experiência do projeto Meninas na Ciência no Centro de Excelência dr. Edélzio Vieira de Melo, em Santa Rosa de Lima. (foto: arquivo pessoal)

“O nosso objetivo, com este trabalho, foi que as alunas da educação básica acompanhassem todo o processo, desde como é produzida uma tecnologia até o produto final, no intuito de inseri-las no meio acadêmico e incentivá-las a seguir a carreira nas ciências”, explicou Lisiane.

Diante da necessidade de distanciamento trazida pela pandemia e da limitação de pessoas permitidas ao mesmo tempo no laboratório, as estudantes não puderam acompanhar in loco. Atualmente, com o produto já finalizado, estuda-se uma alternativa segura que viabilize apresentá-las pessoalmente todas as etapas da pesquisa.

Perspectivas

Com o fim da pesquisa e o bioplástico já elaborado, o jovem pesquisador Carlos Fernando explica que agora estão sendo realizados alguns testes finais e em breve ele pretende ingressar com o pedido de patente do material recém-descoberto.

Outra ação prevista é a elaboração de artigos científicos para apresentação do produto em congressos.

Andréa Santiago (TV UFS)

Luiz Amaro (edição)

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Ter, 05 de outubro de 2021, 17:28