Os sintomas, efeitos e sequelas da covid-19 são constantemente discutidos no noticiário e nas pesquisas. Outras consequências à saúde pública e individual são originados, no entanto, da pandemia, mesmo em quem não foi infectado pela doença. As mudanças na rotina de trabalho, por exemplo, podem influir na saúde. Uma delas pode ser sentida na voz e na percepção vocal. Foi esse o tema do artigo “Percepção vocal de trabalhadores em home office durante a pandemia de covid-19” (tradução livre), no Journal of Voice, referência na área. Uma das autoras da publicação é a professora Vanessa Veis, do Departamento de Fonoaudiologia do campus de Lagarto.
O artigo foi feito de forma interinstitucional e conseguiu boas respostas, sendo durante semanas um dos artigos mais baixados sobre voz. “Nosso trabalho é voltado para a popularização da ciência, então ficamos muito felizes que tantas pessoas tenham se interessado pelo assunto”, comenta.
A pesquisa dividiu os voluntários em dois grupos: um deles exercia o trabalho presencialmente e o outro em home office. No grupo que trabalhava presencialmente, a principal queixa eram as dores na laringe, relacionadas ao uso de máscara. Por causa desse uso, as pessoas passam a apresentar algumas dificuldades de articulação e utilizam mecanismos de compensação, como falar mais rápido e/ou mais alto, o que, segundo a docente, não é a melhor escolha, pois o ideal seria falar mais de forma mais devagar e articulada.
Já quem está em home office enfrenta a fadiga como principal problema, além de dores no pescoço e ombros. Pode ser ocasionado pela combinação de problemas de postura e também pela exposição constante a calls e dispositivos. “O fone de ouvido com microfone, por exemplo, pode atrapalhar o que nós chamamos de feedback auditivo, que é a nossa capacidade de perceber o uso da nossa voz e fazer um controle maior sobre ela. Então, nesse caso, a gente aumenta a intensidade realmente só quando a outra pessoa não compreende o que está se falando”, observa Vanessa.
Quem sentiu essas alterações na pele sabe bem o que a professora Vanessa está falando. Guilherme Versotti, de 34 anos, trabalha no setor de Tecnologia da Informação e, nos primeiros meses do isolamento social, começou a sentir que a voz estava trêmula ao longo do dia. Guilherme, já se preocupava em manter uma boa postura ergonômica no horário comercial, mas resolveu reforçar os cuidados. Comprou uma cadeira mais adequada para o trabalho remoto, passou a reduzir o volume do microfone e reforçou a hidratação. “Tive mais essas coisas nos dois primeiros meses, depois segui os cuidados e hoje estou bem melhor. Acho que o home office compensa em termos de qualidade de vida, pois nos permite também vivenciar a casa e os momentos familiares”, avalia.
Além da professora Vanessa, o artigo foi feito por Ana Paula dos Santos, Rebeca Floro, Larissa Siqueira e Jhonatan da Silva, da Universidade de São Paulo (USP), e Pamela Medeiros, fonoaudióloga clínica.
Ana Laura Farias - campus de Lagarto
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