Os professores do Departamento de Ciências Sociais da UFS e coordenadores do Laboratório de Estudos do Poder e da Política, Fernanda Rios Petrarca e Wilson José Ferreira de Oliveira, desenvolveram um trabalho intitulado “Jalecos brancos, dragão covidiano e tratamento precoce contra a covid-19”. No artigo, a dupla de professores analisa o surgimento do movimento Médicos pela Vida – Covid-19, os médicos envolvidos e sua relação com políticos conservadores e de direita, a fim de entender as consequências sociais causadas.
O professor Wilson de Oliveira explica que a ideia para trabalhar esse tema surgiu a partir de observações de situações cotidianas atuais que combinaram com a linha de pesquisa da dupla. “Um dia estava conversando com uma pessoa sobre a situação da covid-19 e ela me disse que deixou de seguir os políticos e estava acompanhando um grupo de médicos. A professora Fernanda começou a seguir esse grupo e a gente viu que, em torno dessa questão, outras duas eram chaves da nossa pesquisa: a questão dos grupos profissionais (como surgem e se transformam) e a questão de como grupos se organizam para defender causas”.
“O interesse inicial sempre parte de uma curiosidade e nesse caso era a curiosidade de tentar entender quem são esses médicos que investiram amplamente na defesa de um conjunto de medicamentos sem comprovação científica“, completa a professora Fernanda Petrarca. Ela ressalta que a pesquisa “conectou dois focos do laboratório: entender a relação entre profissão e política e, por outro lado, os movimentos sociais”.
A dupla analisa também, por meio de contextos históricos, a relação entre a medicina e a política, e como recentemente os profissionais se engajam com alguns movimentos contra determinados projetos e se aproximaram de projetos mais conservadores, da direita. “Nos últimos anos, essa relação se manifestou muito sobre três aspectos fundamentais: a luta contra o Mais Médicos, o confronto com a implementação da Lei das Cotas e os vetos da ex-presidenta Dilma Rousseff, e a Lei do Ato Médico”, disse a professora Fernanda.
O professor Wilson acrescenta que “o antipetistismo, que dominou a segunda parte dos protestos de 2015 em diante, se tornou um elemento que levou os profissionais aos grupos de líderes e conservadores da direita”.
Além disso, os professores estudam a aproximação da categoria profissional médica com os projetos políticos conservadores no Brasil e do Bolsonarismo e a defesa do tratamento precoce para covid-19. “A candidatura do presidente Bolsonaro contou com o apoio de parte da categoria médica, manifestada, sobretudo, pelo Conselho Federal de Medicina. No início de 2019, os laços entre o governo e a categoria ficaram mais intensos”, salientou a professora Fernanda. “A pandemia dividiu a categoria médica. E esses médicos que se aliaram ao governo vão se aglutinando em torno do tratamento precoce liderado pelo governo. Assim surge o movimento “Médicos pela Vida”, que hoje conta com mais de quatro mil médicos, com amplo uso das redes sociais, que passaram a ser os propagadores do uso de um kit de medicamentos sem eficácia científica”.
Sobre consequências sociais causadas pelo movimento, a dupla a aponta a visão negacionista, o aumento do descrédito profissional e a perda de autonomia da categoria em relação às políticas do governo. “Quando uma profissão, um ofício, se volta contra o conhecimento, isso tem fortes consequências na sociedade”, disse a professora Fernanda.
Os coordenadores do Laboratório de Estudos do Poder e da Política, Fernanda Rios Petrarca e Wilson José Ferreira de Oliveira, também deram uma entrevista sobre o artigo para o podcast SE é Ciência.
Letícia Monalisa - Podcast SE é Ciência
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