A epidemia da febre chikungunya começou em 2014 no Brasil, sendo uma das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti - além da dengue e do vírus zika. Os sintomas mais comuns são febre, dor de cabeça, fadiga e dores musculares e nas articulações. Estas duas últimas podem se manter persistentes por muito tempo depois da infecção.
O ano de 2016 foi o que teve mais casos notificados no Brasil: 39.017 casos. Um deles foi a então médica residente da UFS Alejandra Debbo. Ao padecer da enfermidade, ela percebeu que ainda existiam muitas dúvidas sobre como conduzir os pacientes infectados.
“Decidi me oferecer como voluntária no Hospital Universitário da UFS, para acompanhar somente pacientes com febre chikungunya que mantinham queixas musculoesqueléticas além da fase aguda. A quantidade de pacientes que chegavam ao ambulatório era muito grande e a base de dados crescia também e foi aí surgiu a ideia de utilizar esses dados para a pesquisa [de mestrado]”, relata.
Seu estudo confirmou que as manifestações musculoesqueléticas persistentes pós-chikungunya são, de fato, frequentes. Após 12 meses de acompanhamento, mais da metade dos pacientes mantiveram alguma queixa sendo, que 33,3% dos pacientes mantiveram dor principalmente na forma de dor difusa - que não se limita a uma dor localizada -, mesmo com tratamento e acompanhamento regular.
Alejandra defendeu sua dissertação no mestrado em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe, orientada pela professora Ângela Maria da Silva.
Chikungunya no Brasil
A pesquisa foi realizada durante o maior surto de chikungunya no país. Ângela Silva explica, no entanto, que o vírus tem hoje um comportamento endêmico e epidêmico, isso quer dizer que ele pode continuar em nosso meio por longos anos, em maior ou menor proporção. “Enquanto tivermos o vetor transmissor, que é o mosquito, o vírus permanecerá circulando entre nós”, pontua.
“Antes dessa doença chegar ao Brasil, as informações que tínhamos na literatura era de uma doença autolimitada em sua sintomatologia, isto quer dizer que ela durava pouco tempo causando sintomas. Aprendemos que ela pode durar anos e pode ser fator desencadeador para outras doenças autoimunes. Então não é uma doença que possa ser banalizada”, relata ainda a professora.
Resultados e tratamentos
A pesquisadora e médica Alejandra Debbo acompanhou os pacientes que foram alvo do estudo. Em sua dissertação, ela ressalta que “mesmo com acompanhamento regular e tratamento, 37 pacientes (51,4%) mantiveram alguma queixa, seja neurológica, vascular e/ou articular, e 33,3% mantiveram dor musculoesquelética”.
“O papel do médico, principalmente do reumatologista, na dor persistente pós chikungunya dos pacientes é fundamental, mas ele trabalhando sozinho e só medicando isoladamente não vai conseguir obter uma resposta satisfatória”, diz.
Ela chama a atenção para o fato de que, assim como ocorre com outras doenças, é preciso o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar no tratamento. “Pacientes com queixas musculoesqueléticas pós chikungunya precisam de fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, senão o tratamento se torna incompleto”, defende.
A atenção básica de saúde e o pronto socorro são a porta de entrada do paciente com a febre, então é importante treinar os profissionais da saúde para que saibam identificar um caso de chikungunya , e assim, conduzir, orientar, acolher o paciente e se necessário encaminhar para o reumatologista.
Para saber mais
A pesquisa citada nesta matéria pode ser encontrada no Repositório Institucional da UFS, clicando aqui.
Waldênnia Soares (bolsista)
Marcilio Costa