O peso máximo que um trabalhador pode remover individualmente e de 60kg. No Brasil, uma das poucas especificações sobre o manuseio de carga é o artigo 198 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), de 1943. No geral, é o empregador que estabelece se ela é ou não prejudicial à saúde dos seus empregados. A falta de parâmetros pode ser uma ameaça à saúde dos trabalhadores que lidam com cargas diversas, o que motivou a criação de um aplicativo para smartphone com a função de identificar o risco de lombalgia nesses operários.
“O app permitirá que os profissionais responsáveis pela saúde e segurança dos trabalhadores antecipem o risco do desenvolvimento de lombalgias, permitindo ajustes no posto de trabalho de modo a garantir a sua integridade física”, é o que conta o professor Luciano Fernandes, do Departamento de Engenharia de Produção (Depro), que coordenou a pesquisa financiada por uma bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O aplicativo
Sob orientação de Luciano, o trabalho foi desenvolvido pelo estudante de Engenharia de Produção José Wendel dos Santos e pelo Técnico em Informática Aurino Alexandre Júnior, servidor do Depro. O aplicativo foi registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), com intermediação da Cinttec (Coordenação de Inovação e Transferência de Tecnologia da UFS).
De acordo com Wendel, a ideia para o desenvolvimento do aplicativo surgiu a partir dos resultados das pesquisas anteriores com trabalhadores que executavam manuseio de cargas e relataram dores na região lombar. “Os resultados apontaram a existência de sobrecarga na coluna lombar desses trabalhadores, podendo evoluir para dores crônicas. Pensamos, então, que além das intervenções sugeridas, poderíamos desenvolver um app que possibilitasse essa avaliação muito antes de eles sofrerem a consequência desse tipo de atividade”, conta.
Devido ao caráter multifatorial da doença, para elaborar o aplicativo foram considerados múltiplos elementos que compõem o processo de trabalho: características individuais, ocupacionais e biomecânicas dos trabalhadores. “Observamos, por exemplo, como a idade, peso, altura e IMC [Índice de Massa Corporal] influenciavam nas algias [dores] lombares. Do mesmo modo, também analisamos qual a influência dos fatores ocupacionais (tempo de serviços, jornada de trabalho, etc.), do posto de trabalho (duração da tarefa, peso da carga, quantidade, etc.) e da biomecânica ocupacional (distâncias de preensão da carga em relação ao solo e ao plano sagital do trabalhador, etc.) no desfecho investigado”, diz o pesquisador.
Para ele, é edificante contribuir para o desenvolvimento de ferramentas que busquem avaliar previamente os riscos a que estão expostos os empregados, sejam eles formais ou informais. “Todo o aprendizado adquirido na iniciação científica contribuiu para me fazer um profissional engajado, não somente para ao aumento da produtividade das empresas, como também na promoção da saúde desses trabalhadores, que são parte importante desse processo”, enfatiza.
Aurino Alexandre Junior, que contribuiu no desenvolvimento do aplicativo, comenta que foi muito satisfatório participar do projeto. “A minha parte foi a de transformar implementação dos passos manuais do projeto para a forma de um app, o qual foi desenvolvido usando a tecnologia Java para a plataforma Android. É sempre gratificante saber que um projeto do qual você fez parte será usado para levar algum benefício para alguém”, narra.
Segundo Luciano, a inovação desenvolvida possibilitará ganhos para todos os atores envolvidos: “aos trabalhadores, pelo desempenho de suas atribuições e preservação da integridade física; aos empresários, pela otimização das operações comerciais e incremento nos indicadores de desempenho econômico; ao governo, pela redução de gastos diretos e indiretos no Sistema Único de saúde (SUS) e Instituto Nacional do seguro Social (INSS); e à UFS, pela exploração comercial do aplicativo e arrecadação de royalties”.
A UFS e a inovação
A Cinttec é a instância de execução da política institucional para a proteção e transferência de tecnologia da Propriedade Intelectual na UFS. Uma de suas principais finalidades é dar suporte aos pesquisadores no processo de patenteamento de inventos, produtos e processos gerados nas atividades de pesquisa e que possam ser transformados em benefício para a sociedade.
A UFS, inclusive, tem uma posição de destaque no cenário nacional quanto à inovação, em geral, e em relação ao registro de patentes, especificamente.
Fernanda Roza (bolsista)
Marcilio Costa
comunica@ufs.br