A caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, que ocupa 11% do território do país, estendendo-se por 844.453 km². Até o momento, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), foram descritas na região 932 espécies de plantas, 241 de peixes, 79 de anfíbios, 177 de répteis, 591 de aves, 178 de mamíferos e 221 de abelhas. Um estudo recente apontou que apenas 7,5% do território da caatinga estão protegidos em UC (Unidades de Conservação) no Brasil.
A informação soa mais alarmante quando somada a um dado do MMA: menos de 1,5% do bioma faz parte de unidades de proteção integral. Outro fator que deixa a situação do bioma complicada é que ele é um dos menos estudados do Brasil e, por isso, sua diversidade biológica tem sido subestimada.
Pouco é estudado e dimensionado, por exemplo, a respeito da emissão de carbono nesse bioma. Esse é um dos principais gases de efeito estufa, atividade tida como uma das causas do aquecimento global.
O carbono pode ser encontrado em diversas atividades humanas e em diferentes setores da economia: na agricultura, por meio da preparação da terra para plantio e aplicação de fertilizantes; na pecuária, por meio do tratamento de dejetos animais e pela fermentação entérica do gado (produção de metano pela respiração do boi no processo de ruminação).
A agricultura e a pecuária estão presentes também na caatinga, o que levou o professor Alexandre de Siqueira Pinto a estudar a presença do carbono no solo desse bioma. Sob sua orientação, o estudante Antônio Vitor Santos Batista analisou a retenção do elemento químico no solo do município de Canindé de São Francisco, Sergipe. Eles trabalharam com amostras de solo de um setor de vegetação nativa e de uma terra sob plantio de milho ao longo de 30 anos.
“O problema mais básico que a gente está tentando resolver é segurança alimentar e qualidade ambiental. Porque se você for pensar quais são os setores de atividades relacionados ao ser humano que mais emitem gás de efeito estufa em nosso país, mais de 50% é de mudanças de uso da terra, relacionado com o desmatamento, e a própria agropecuária. Neste trabalho a gente vem procurando maneiras sustentáveis para produzir alimento e contribuir para o meio ambiente”, afirma o professor do departamento de Ecologia.
A manipulação do solo promove a emissão do carbono
Após fazer o comparativo desses dois tipos de área, os pesquisadores chegaram a concluir que a vegetação natural promove um maior acúmulo de carbono no sistema e, após a retirada da vegetação natural e o plantio de algum tipo de cultivo (nesse caso, milho), a tendência é que o acúmulo de carbono diminua. O carbono, então, após esse processo, se direciona para a atmosfera, aumentando a concentração de gases de efeito estufa.
“A gente tem um problema hoje que é o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera e o dióxido de carbono está relacionado com esse processo. E a gente tem diversos ‘compartimentos’ de carbono - a atmosfera, o solo, a vegetação, todos eles possuem carbono - e todos eles vão estar interligados de certa forma. Se eu mexo na concentração de carbono que está em um, vai implicar no outro. A problemática é a substituição de áreas naturais por áreas cultivadas. A gente quis analisar o carbono que vai estar no solo sob a vegetação nativa, que vai ser maior que o carbono de uma área cultivada”, ressalta Antônio Vitor, que é aluno do 5º período de Ciências Biológicas.
O professor Alexandre esclarece os indicativos da pesquisa no que diz respeito à reserva de carbono em ambientes de manejo.
“Mesmo tentando um manejo menos impactante, nós percebemos que os estoques de carbono na simulação que fizemos não superavam e nem igualavam o carbono que tinha antes (quando ainda era um sistema nativo de caatinga). É o indicativo de como podemos recuperar áreas que estejam degradadas, podemos usar manejos que sequestram carbono, mas mesmo utilizando esse estilo de manejo, o solo ainda continua vulnerável, ele não consegue recuperar as quantidades de carbono que tinha antes”, adverte o docente.
“Isso é importante alertar, porque às vezes a gente acha que só com a tecnologia podemos resolver os problemas, mas a ideia é de que se possam recuperar as áreas que já estejam degradadas de forma a diminuir a pressão por novos desmatamentos”, finaliza.
Para saber mais
Acesse o relatório final da pesquisa no Repositório Institucional, clicando aqui.
Emerson Esteves*
Marcilio Costa (jornalista supervisor)
* Estudante de Jornalismo da UFS. Esta matéria foi desenvolvida como parte das atividades de Estágio Curricular Supervisionado do curso.