O Brasil é o maior produtor mundial de laranja e o principal exportador do suco congelado. Um dos maiores produtores do fruto, Sergipe produziu, em 2014, mais de 1,8 milhão de toneladas do fruto, com rendimento médio de 15,3 toneladas por hectare, segundo dados do IBGE.
A laranja teve impulso econômico, no estado, na década de 1970, com apoio do poder público, através de créditos concedidos aos trabalhadores rurais e do aumento da tecnologia - os citros passaram a ser o principal produto da região centro-sul de Sergipe. No entanto, nos anos 1990 o estado passou por uma crise de produção que pendura até os dias atuais.
Interessada em entender a crise na citricultura e os motivos de sua perpetuação, Adelli Carla Silva de Andrade realizou sua pesquisa de doutorado no Programa de Pós-graduação em Geografia, da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
A redução do apoio governamental, o surgimento de pragas, pomares velhos e falta de assistência foram alguns dos motivos que levaram o estado a vivenciar essa crise, é o que concluiu Adelli.
Pesquisando a citricultura
Para analisar a rede que envolve a citricultura de Sergipe, Adelli Andrade trabalhou com os conceitos de circuito espacial da produção e os círculos de cooperação. De acordo com a pesquisadora, o primeiro diz respeito a todo o processo pelo qual o fruto passou, desde a produção até o consumo. Já o círculo de cooperação é o que facilita a interligação entre os circuitos, ou seja, o que une todo o processo. “São as empresas que proporcionam o crédito rural, assim como as que implantam a tecnologia” diz a pesquisadora.
Adelli entrevistou sujeitos envolvidos em todas as etapas do circuito de produção, desde camponeses, atravessadores, donos de casas agropecuárias, até os trabalhadores e gerentes da indústria de suco. A cientista buscou entender a atuação do poder público no cenário, através da facilidade (ou não) do crédito para insumos, e de que forma ele tem proporcionado assistência a esses sujeitos, seja na concessão do uso, seja ocupação do solo.
A pesquisadora, analisou também as transformações ocorridas no espaço e as relações de trabalho da população dos municípios sergipanos. Para isso ela visitou os quatorzes principais municípios citricultores, localizados no centro-sul do estado (veja o mapa).
Ela utilizou ainda, além das entrevistas, dados do IBGE, Embrapa, Secretaria de Agricultura de Sergipe, Associação Nacional de Exportadores de Sucos Cítricos, Secretaria de Comércio e Exportação e das próprias empresas produtoras do suco.
A Crise atual da citricultura sergipana
A redução do apoio estatal, pragas, o envelhecimento dos pomares e a falta de assistência técnica resultaram na instauração de uma crise na citricultura na década de 1990. Entretanto, a laranja ainda é de grande importância econômica para Sergipe, e o suco aqui produzido contribui para a balança comercial.
O professor Celso Donizete Locatel, orientador da pesquisa, destaca como motivos principais para a queda da produção e da produtividade da laranja em Sergipe a falta de políticas adequadas para o setor, a incidência de pragas nos pomares e a concorrência da produção, que passou a ser realizada também em municípios do estado da Bahia. “É preciso frisar que não há crise da citricultura no Brasil, trata-se de uma crise local, resultada dos fatores citados acima” diz o orientador.
A praga considerada a vilã da citricultura é a Aleurocanthus woglum, conhecida como Mosca Negra do Citros. Ela causa danos diretos e indiretos à plantação e prejudica o desenvolvimento e a produção das plantas. “Os agricultores não sabem como lidar com essa praga, muitos gastam mais com investimento para tentar matá-la do que [o que] vem de retorno após a colheita e para que haja um controle da mosca é preciso realizar a pulverização no pomar a cada 15 dias”, ressalta Adelli Andrade.
Segundo Adelli, muitos camponeses acabaram deixando de plantar a laranja, inclusive têm migrado para o cultivo de milho. “No atual contexto, o milho é a segunda saída, porque além de alimentar o animal, eles [agricultores] não precisam de grandes quantidades de mão-de-obra para manusear essa atividade” diz a pesquisadora.
Desafios para superar a crise
Para Celso Locatel, a solução para a crise da citricultura passa pela definição de política específica para esse circuito espacial de produção no estado, pela organização social dos produtores em associações e cooperativas, pelo desenvolvimento de tecnologias sociais para diminuir a sujeição dos produtores ao mercado, e pela constituição de mercados consumidores locais ou regionais, para que a produção não sofra com a concorrência de outras regiões.
Adelli Andrade acredita que, além do investimento por parte do Estado e de acompanhamentos técnicos frequentes, as cooperativas seriam também uma das saídas da crise para o camponês. “A recuperação da credibilidade do apoio coletivo das cooperativas é de grande importância, pois representa uma grande saída como tentativa de superar essa longa fase crítica”, conclui.
Para saber mais
A tese pode ser acessada na íntegra no Repositório Institucional da UFS, clicando aqui.
Ana Clara Abreu (bolsista)
Marcilio Costa
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