O êxito no processo de aprendizagem das ciências exatas no Brasil tem sido um desafio para os professores e órgãos competentes. Segundo dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica de 2017, a cada dez alunos, sete saem do ensino médio sem possuir o nível adequado de conhecimento em matemática. Mas, como pensar em uma forma de melhorar esses índices? O Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (Codap/UFS) desenvolveu um projeto para trabalhar uma área específica do conhecimento: a física.
Diferença entre velocidade e aceleração, tipos de movimento, tempo e espaço. Aqueles que passaram pelas aulas de física no ensino médio já ouviram alguns destes termos. A cinética, objeto trabalhado no projeto, é a área da física que trata sobre o estudo da ação dessas forças no movimento de corpos.
Utilizando LEGO automatizado com Arduino – plataforma com linguagem de programação padrão -, o projeto recebeu dois prêmios na 17ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace): Destaque por Estado e Menção Honrosa em Física. A feira ocorreu em São Paulo de 19 a 21 de março.
O trem
Deixar o processo de aprendizagem da física mais próximo da realidade do educando tem sido uma premissa seguida por professores e alunos do Codap. Ao desenvolver um kit didático, utilizando Arduino e LEGO, André Oliveira Silva Jarske e Nemésio Augusto Álvares Silva orientaram o projeto que visa dinamizar o ensino da Cinética, possibilitando uma maior praticidade e facilidade no processo de ensino-aprendizagem.
O trem se movimenta através de uma trajetória reta e trechos circulares. Logo após, as informações (grandezas cinemáticas) aparecem em um display de LCD. Aliado a isso, são aplicadas atividades pelo professor para analisar a compreensão dos alunos perante os conceitos apresentados.
Ao ser indagado sobre o surgimento do projeto, Nemésio Augusto conta que a ideia surgiu em 2015. “Aqui no colégio temos física desde o 9º ano do Ensino Fundamental até o Ensino Médio. Eu e o professor André estamos há 4 anos tentando desenvolver atividades que atraiam os alunos, além do cotidiano da sala de aula”, relata.
Alterar a visão dos alunos sobre a utilização da Física é um dos objetivos centrais no projeto. “O que tentamos, é fazer com que o aluno, dentro da atividade do aprendizado de física, observe que aquilo que ele vai aprender sirva não apenas para responder uma prova ou para um vestibular. O cotidiano dele, através da tecnologia, tem a Física presente, naquilo que é mais palpável como, por exemplo, a eletrônica”, explica Nemésio.
O professor salienta ainda que o projeto traz muitas contribuições. “[Com o uso do kit] você desenvolve a curiosidade na eletrônica; programação do próprio Arduino, usando uma linguagem específica; e quando ele vai montar o circuito começa a utilizar a química. Mostrando, assim, que aquilo que o aluno vê no cotidiano de uma forma teórica, na verdade, está entrelaçado no dia-a-dia dele”, pontua.
Para André Jarske, docente do Codap, a educação está passando por alguns processos de transformação. “A ideia de aulas simplesmente teóricas não tem despertado tanto o interesse desses alunos que estão agora em outros processos, muito mais de informatização, internet e ligação com coisas mais digitais”.
Além disso, André conta que trabalhos como este são consideráveis para que os estudantes percebam a sua capacidade. “A primeira importância para os alunos é a possibilidade que os outros vejam que eles são capazes de construir. Serem autônomos do seu próprio conhecimento. É como se eles dissessem: ‘eu tenho um problema a ser resolvido e preciso entender como, no caso da física, obter determinadas grandezas’”, relata.
Protagonismo
Matheus Gomes de Santana e José Lucas de Jesus Santos são os alunos do Codap que desenvolveram o projeto. Eles são estudantes do 3° ano do Ensino Médio e já iniciaram no trabalho por meio de convite dos professores, no 9° ano.
Ao pensarem em plataformas que possibilitassem a execução da ideia, as duplas de alunos e professores escolheram o LEGO, devido ao recebimento de doações que foram destinadas à escola, e o Arduino por ser um material de baixo custo financeiro e que não inviabilizaria o projeto.
Ao contar sobre o processo de construção do kit, Matheus diz que as pesquisas feitas até a conclusão do projeto foram muitas. “Após selecionar a plataforma do Arduino, nós começamos a fazer pesquisas para saber como utilizar, pois o contato que tínhamos com a eletrônica não era com Arduino em si. Então, passamos um longo tempo só pesquisando”.
“Muito conhecimento”, ressaltou o jovem José Lucas sobre o retorno que obteve ao participar da iniciativa. “A gente não conhecia a parte de programação do Arduino. Começamos a desenvolver o projeto e vimos que não estava dando muito certo. Por isso, pensamos: ‘precisamos parar e estudar a plataforma para depois continuar’”, conta.
Os dois alunos possuem interesses em comum: sonham em ingressar no nível superior – Matheus Gomes no curso de Engenharia Mecatrônica e José Lucas, Engenharia Eletrônica. Além disso, eles esperam que o kit didático possa ajudar o professor na sala de aula, deixando o ensino da Física menos teórico e mais palpável.
Paulo Marques (bolsista)
Marcilio Costa
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