As redes sociais virtuais se tornaram um grande meio para propagação de informações. O Instagram, por exemplo, possui hoje cerca de 1 bilhão de usuários ativos e mais de 400 milhões de publicações diárias, segundo informações recentes da empresa. No entanto, novas demandas e propostas ocuparam a plataforma, reconfigurando, assim, suas funções e utilidades.
Uma dessas funções é o empreendimento informal digital. A pesquisadora Raísa Teixeira identificou essa questão e decidiu pesquisar o tema no mestrado que cursou, em Administração, na Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Ela define que o empreendedorismo informal digital é aquela atividade que não sofre taxações do governo e que funcione no ambiente online – não apenas nas redes sociais virtuais, como tratou sua pesquisa, mas também em outras plataformas que utilizem a internet.
“É como se, para o governo, essa atividade econômica não existisse, porque ele não está ciente”, pontua.
A mestra em Administração traçou o perfil dos empreendedores digitais e procurou identificar os desafios do comércio em redes sociais virtuais, especificamente no ramo do vestuário, no aplicativo Instagram.
Essa não é a primeira pesquisa feita por Raísa sobre a temática. Em sua graduação na UFS, em 2015, a estudante escreveu sobre negócios no Facebook. Contudo, a pesquisadora, em seu mestrado, resolveu utilizar, como suporte para o objeto de estudo, outra plataforma. Para o mestrado, porém, ela decidiu mudar o suporte do objeto de estudo, escolhendo outra plataforma digital.
“Escolhi o Instagram pela ascensão do momento. Na época da graduação, pesquisei sobre o tema no Facebook, que era a rede social virtual que estava em alta naquele momento. Com o passar dos anos, o Facebook já está sendo deixado de lado e, dessa maneira, percebi o auge do Instagram tanto para o lazer quanto para o comércio”, diz.
Ludmilla Montenegro, orientadora do trabalho, acredita que o enfraquecimento do Facebook, como recurso para empreender, ocorreu pela praticidade e rapidez exigida pelos usuários.
“Essa migração do Facebook para o Instagram se deu porque o Instagram tem menos texto. As pessoas estão querendo coisas cada vez rápidas. Dentro da própria plataforma já têm a questão dos ‘stories’, que direcionam para a própria página da pessoa; ou seja, não estão acompanhando mais até a página individual. Estão olhando os ‘stories’ por serem mais rápidos”, conta a professora do Programa de Pós-Graduação em Administração.
Contudo, a docente salienta que isso preocupa. Segundo ela, isso comprova que as pessoas estão lendo cada vez menos, inclusive nas redes sociais.
Outra inquietação de Ludmilla, relacionada a questões mercadológicas, é sobre a utilização eficiente do Instagram para obter bons resultados no negócio. “O que me preocupa também é se a empresa que lança um perfil no Instagram sabe utilizá-lo. ‘Responde rápido? ’, ‘passa informações? ’. Querendo ou não, é uma ferramenta, que você estabelece, de ligação. Se você não faz de maneira adequada, perde o cliente e tem dificuldades”, relata.
Desafios digitais
Empreender. Seja no ambiente “físico” ou digital, a tarefa de decidir realizar algo requer planejamento, principalmente para conseguir lidar com os desafios. Gestão de pessoas e financeira, burocracia, inovação, marketing e vendas. De acordo com a Pesquisa Desafios dos Empreendedores Brasileiros, esses são os maiores desafios do empreendedor no Brasil, independente do perfil. Mas se o negócio/empreendimento estiver ambientado digitalmente, os desafios são os mesmos?
Desde a sua criação, a plataforma do Instagram já recebeu várias atualizações, melhorando ou acrescentando funções. No entanto, o empreendedor digital informal, ao utilizar a plataforma, enfrenta dificuldades. Uma das constatações, sobre o uso do Instagram no empreendimento, que Raísa conseguiu identificar foi relacionada aos algoritmos – que são os códigos de programação que determinam o funcionamento da plataforma.
“O Instagram só mostra o que o usuário curte, a ferramenta “patrocinado” [quando o usuário paga para aumentar o alcance de uma publicação] não tem o alcance que deveria, curtidas e comentários misturados e postagens que desaparecem devido a denúncias”, explica Raísa.
A mestra, em seu trabalho, indica que os desafios que os negócios no Instagram enfrentam são os mesmos do comércio eletrônico em geral. Ela conta que o fato de o cliente não ver a peça de roupa gerava dúvidas sobre o tamanho, já que no Brasil não existe um padrão. Além disso, a forma de pagamento dificulta a venda. “Muitas pessoas têm medo de passar dados de cartão de crédito, mesmo com os sistemas de pagamentos eletrônicos”, diz.
A pesquisa analisou 15 empreendimentos de vestuários no Nordeste. Os dados coletados pela pesquisadora identificaram que as dificuldades mais abordadas foram: conseguir seguidores, a utilização somente de fotografias e áudios e competição por preços; ou seja, quase todas ligadas especificamente ao ambiente digital.
Quem é? O que o motiva?
Raísa percebeu que os perfis dos donos de negócios no social commerce não são tão distintos: grande parte são mulheres, com no mínimo Ensino Médio completo, sem experiência anterior com negócios on-line.
Além disso, a facilidade ao acesso de novos mercados, um maior tempo dos produtos na “vitrine” e oportunidades foram os motivos que fizeram com que seus entrevistados iniciassem um empreendimento.
Saiba mais
Para ler o trabalho completo da pesquisadora Raísa Teixeira e saber mais informações sobre como funciona os negócios no Instagram, acesse o Repositório Institucional da UFS clicando aqui.
Paulo Marques (bolsista)
Marcilio Costa
comunica@ufs.br