Os impactos ambientais estão sempre sendo estudados e geram preocupação para quase todas as áreas de pesquisa. No que diz respeito ao petróleo, um dos impactos observados são os cascalhos gerados da perfuração de poços que, ao serem descartados, se tornam um risco de contaminação ao meio ambiente.
Por ter trabalhado mais de 22 anos na indústria petrolífera, José Bezerra de Almeida Neto – atualmente professor do curso de Engenharia de Petróleo da Universidade Federal de Sergipe (UFS) – resolveu pesquisar em seu doutorado a necessidade que a indústria tinha para descartar o cascalho.
A ideia era analisar as formas de utilizar o cascalho como componente na pasta de cimento do poço de petróleo em uma cimentação primária. Transformar esse resíduo em um componente da pasta de cimento, reduzindo, dessa forma, a quantidade de cascalho dispensada.
O resíduo vindo da perfuração dos poços terrestres, que antes seria despejado em aterros ou em lixões a céu aberto, passa a ter uma nova função. De acordo com a pesquisa, esse cascalho passaria por um beneficiamento, ou seja, ele seria tratado para que possa ser adicionado no processo de produção da pasta de cimento para a construção de novos poços de petróleo. Desse modo, foi notada a redução de custo para a produção dessa pasta – cerca de 80% do custo de beneficiamento é reduzido – e para quem a compra. Além disso, reduz o impacto ao meio ambiente que o cascalho não reaproveitado causaria, como a contaminação do subsolo.
Para Roberto Rodrigues de Souza, orientador do trabalho, a experiência não traz prejuízo à indústria e preocupações quanto à legislação, nem modifica os processos próprios. “Em termo cultural que a empresa precisa fazer a cimentação e perfuração, ela continua. Só precisa mudar um pouco da logística em termo do desenvolvimento da empresa para usar o cascalho no cimento. Em termo de legislação, o que chamamos de parte política, também não precisa mudar”, explica Roberto, que é professor do Departamento de Engenharia Química e da pós-graduação do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema), ambos da UFS.
Para os dois professores, a pesquisa envolve pilares do desenvolvimento sustentável e essa foi uma preocupação constante em sua estruturação. “Ela se baseia na sustentabilidade. Socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente correto”, esclarece Almeida.
Desenvolvimento da pesquisa
O doutorado foi realizado através do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da UFS, envolvendo parceria com o Núcleo de Petróleo e Gás (Nupeg) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O objetivo foi descobrir qual a porcentagem máxima de cascalho que poderia ser adicionada à pasta de cimento, sem que os requerimentos técnicos exigidos para um bom funcionamento da pasta não fossem perdidos. “Utilizar o cascalho como componente na pasta de cimento do poço de petróleo em uma cimentação primária e transformar esse resíduo em um componente da pasta de cimento, reduzindo, dessa forma, a quantidade de cascalho dispensada”, destaca o pesquisador. “Dar um destino nobre, menos prejudicial”, completa.
Os testes laboratoriais foram feitos para verificar a resistência compressiva, propriedades biológicas, tempo de espessamento e água livre, por exemplo. “Eu obtive cascalhos de uma zona produtora de petróleo em Sergipe, misturei alguns, de 3 a 10 poços, inicialmente, de granulometrias variadas. Então esse cascalho precisou passar por um processo de beneficiamento para poder misturar ao cimento e daí iniciar os testes em laboratórios convencionais”, relata Almeida.
Tanto para o pesquisador, quanto para o orientador, a intenção foi sempre ter uma visão aplicada de mercado para que fosse possível ter total aplicabilidade para a indústria. O resultado encontrado foi que o acréscimo de 10% de cascalho não iria impactar negativamente nos parâmetros exigidos, o que, de acordo com professor Roberto, já é significativo para a área de petróleo. A produtividade aumenta e o cascalho volta ao ciclo produtivo. “Do poço ao próprio poço”, conclui Almeida.
Letícia Nery (bolsista)
Marcilio Costa
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