A Universidade Federal de Sergipe passou a integrar uma rede internacional de dezenas de universidades, para a realização do levantamento de toda a obra escrita do Marquês de Pombal. O objetivo é a publicação de suas obras completas, em uma edição de 32 volumes.
O ambicioso projeto, intitulado Marquês de Pombal: Obra Completa, é capitaneado pela Universidade Aberta de Portugal (UAb). A UFS assinou no final do mês de outubro um acordo de cooperação com a instituição portuguesa, válido até a extinção do projeto, que prevê concluir os trabalhos até 2023.
O Marquês de Pombal foi um diplomata e político, que viveu entre 1699 e 1782, cuja atuação marcou profundamente a história de Portugal e de suas ex-colônias, incluindo o Brasil. Sua obra, constituída por manuscritos e impressos, alguns deles inéditos, encontra-se ainda hoje dispersa e mal conhecida.
A iniciativa pretende fazer o levantamento de toda a obra escrita do Marquês de Pombal (ou inspirada por ele), preparar uma edição atualizada, com anotações críticas, promovendo a renovação e enriquecimento das discussões sobre o importante político.
Universidades de Portugal, Espanha, França, Estados Unidos, Brasil e outras países integrarão o grupo “intergeracional, interuniversitário, interdisciplinar e internacional de investigadores”, de acordo com o idealizador e coordenador do projeto, o pesquisador português José Eduardo Franco, professor da UAb.
A contribuição da UFS na empreitada será dada pelo Grupo de Pesquisa NEC, o Núcleo de Estudos de Cultura, coordenado pelo professor Luiz Eduardo Oliveira.
O docente estuda o Marquês de Pombal desde 2010, período em que publicou artigos e livros sobre o lusitano, além de ter orientado pesquisas de mestrado e doutorado relacionados, direta ou indiretamente, ao período pombalino.
Em 2010, Luiz Eduardo estava lançando, no Maranhão, o livro A legislação pombalina sobre o ensino de línguas: suas implicações na educação brasileira (pela Editora UFAL). Um dos autores citados pelo professor era José Eduardo Franco.
“Ele foi me assistir porque se interessou pelo título da minha apresentação”, narra Luiz Eduardo, a respeito de sua aproximação com Franco. “Então ele me convidou para eu ir a Portugal e lá ele se tornou meu supervisor [do estágio de pós-doutorado]”, completa.
A parceria resultou em diversos trabalhos, entre livros e artigos. O principal deles, segundo Oliveira, é o livro O mito de Inglaterra: anglofilia e anglofobia em Portugal, publicado no país ibérico pela editora Gradiva.
O Marquês e o Brasil
Sebastião José de Carvalho e Melo foi um estadista português, tendo ocupado as funções, dentre outras, de diplomata e Secretário dos Negócios do Reino de Portugal, durante o reinado de Dom José I. Recebeu o título de Marquês de Pombal em 1769.
Neste artigo, os pesquisadores Luiz Eduardo Oliveira e José Eduardo Franco mostram algumas das influências do Marquês de Pombal na constituição política, cultural e geográfica do Brasil.
De acordo com a publicação, estudiosos apontam que a influência do Marquês no Reino de Portugal foi tão grande, que, “para todos os efeitos, ele governou Portugal entre 1750 e 1777”.
A política imposta por Dom José I e o Marquês de Pombal “reforçava a política centralista e anti-autonomista em relação aos territórios coloniais, na linha dos reinados portugueses anteriores”, diz o artigo.
Nas colônias portuguesas, como era o caso do Brasil, significou, por exemplo, a manutenção do impedimento da criação de universidades no território colonial e a política de dificultar o surgimento de uma imprensa periódica, de academias de letras e de ciências e até mesmo de simples tipografias para editar livros.
Essa política levou à “expulsão dos jesuítas e de suas experiências de organização com uma certa autonomia dentro do território brasileiro”, segundo o trabalho da dupla. Isso impediu “a formação de elites fortes e quadros capazes de contestar e apresentar alternativas”, analisam os estudiosos.
“Defendemos a tese de que ele, segundo apontam estudos históricos, foi responsável em grande parte pela criação disso que a gente conhece como Brasil. Primeiro, pela imposição da língua portuguesa, assim que ele expulsou os jesuítas”, afirma Luiz Eduardo. “Depois, com a reformulação do ensino, isso até em termos de Portugal e seus domínios”, completa.
Foi também durante o período pombalino que se aprovou o Tratado de Madri, em 1750, redefinindo as possessões portuguesas e espanholas na América. A legislação, que anulou o Tratado de Tordesilhas, estabeleceu o território do Brasil com uma constituição mais próxima à de como o conhecemos hoje.
Obra Completa Pombalina
Apesar de uma rede ampla e diversificada de pesquisadores engajados, o projeto estima que levará cinco anos para realizar todo o trabalho de pesquisa, anotações, edição e publicação dos 32 volumes da obra completa do Marquês de Pombal.
Luiz Eduardo Oliveira, no entanto, confia na equipe de cientistas e sobretudo no coordenador da iniciativa. “O José Eduardo [Franco] se tornou o homem dos livros em Portugal. Ele organizou, por exemplo, as obras completas do padre Antônio Vieira, em 36 volumes”, conta Oliveira. “Foi uma obra pela qual ele recebeu a Medalha do Mérito Cultural do presidente da república”, diz.
José Eduardo Franco é diretor do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (Clepul), da UAb. Ele é um dos signatários do Acordo de Cooperação entre a UAb e a UFS, além do próprio Luiz Eduardo e os reitores das duas instituições.
Editora UFS
O acordo de cooperação estabelece as bases da parceria entre as instituições, com a previsão de outras atividades dentro do projeto. Entre elas, está a participação da UFS na editoração da obra.
“Eu não poderia deixar de mencionar o papel fundamental da Editora UFS, cujo Conselho Editorial aprovou o projeto, inserindo-o em sua política editorial, o que dará suporte para a edição digital da obra, incluindo projeto gráfico e hospedagem dos livros, com a chancela da editora de nossa universidade”, comemora Luiz Eduardo.
Para saber mais
Para acessar o projeto Marquês de Pombal: obra completa e o Acordo de Cooperação, clique nos links abaixo.
Marcilio Costa
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