Qui, 17 de outubro de 2019, 17:16

Seminário debate produções e estudos sobre culturas populares
Evento realizado pelo mestrado em Culturas Populares mostra também pesquisas de seus alunos

Na tarde desta quarta-feira, 16, foi aberto o 2º Seminário “Culturas Populares em Debate”, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Culturas Populares da UFS (PPGCULT). A ênfase desta segunda edição é apresentar e debater a memória de parte do que se produziu e se produz sobre o tema.

O evento está sendo realizado no auditório da Associação dos Docentes da UFS (Adufs) e seguirá até sexta-feira, 18.

O Seminário foi aberto por um debate que envolveu duas participantes do PPGCULT: a professora Lourdisnete Benevides e a mestranda Patrícia Brunet, ambas falando sobre suas pesquisas.

Em seguida, o evento recebeu a presença de dois convidados: o pesquisador e presidente do Conselho Estadual de Cultura de Sergipe Antônio Amaral, e o jornalista e documentarista Pascoal Maynard. Foi exibido um documentário dirigido por Maynard - “Os penitentes de Sergipe” - como prévia para o debate sobre essas manifestações religiosas no estado.

Catolicismo popular

Uma das expressões da cultura popular em Sergipe são as práticas religiosas, como a dos penitentes. Trata-se de uma tradição que remonta à Idade Média e foi trazida com os portugueses para essas terras que vieram a se chamar Brasil.


Para Antônio Amaral, é preciso evitar o desaparecimento das práticas religiosas populares: “Com o desaparecimento deles, morrerá o que há de mais autêntico no catolicismo popular no Brasil” (Fotos: Brunna Martins – Ascom/UFS)
Para Antônio Amaral, é preciso evitar o desaparecimento das práticas religiosas populares: “Com o desaparecimento deles, morrerá o que há de mais autêntico no catolicismo popular no Brasil” (Fotos: Brunna Martins – Ascom/UFS)

As procissões dos penitentes costumam ser realizadas durante a Semana Santa (que se encerra no Domingo de Páscoa) e os quarenta dias que a antecedem, chamados de Quaresma e que se iniciam na Quarta-feira de Cinzas (primeiro dia após o carnaval). Na tradição católica, é um período de penitências, ou seja, atos de arrependimento dos pecados, manifestados por jejuns, orações, vigílias e até autoflagelação.

Antônio Amaral realizou um levantamento - em parceria com a também pesquisadora Maria Aurelina dos Santos, já falecida - das manifestações de penitentes em Sergipe. “Um trabalho meticuloso”, segundo ele.

Eles identificaram três vertentes da prática. A dos “alimentadores das almas” diz respeito aos fiéis que se reúnem durante toda a Quaresma, realizando procissões e orações em favor das “almas do purgatório”. A Procissão do Madeiro é realizada apenas na cidade de Nossa Senhora das Dores, onde os fiéis saem em peregrinação pelas ruas, para relembrar a caminhada de Jesus Cristo rumo ao calvário.

Outra vertente é a dos “autoflagelados”, fiéis que mutilam o próprio corpo buscando se redimir dos seus pecados e também para salvar outras almas. Estes são encontrados em Ilha das Flores e Tomar do Geru.

Segundo Antônio Amaral, as práticas têm diminuído ao longo do tempo. “É necessário, e eu quero deixar isso claro, que o poder administrativo, o poder executivo, ou seja, os prefeitos das cidades, procurem ter uma atenção com esses ternos, porque com o desaparecimento deles, morrerá o que há de mais autêntico no catolicismo popular no Brasil”, enfatiza.

Pascoal Maynard observa que o documentário que dirigiu, exibido no Seminário, tem 12 anos de lançamento. “Falamos de fé, e fé é imutável, né…”, observa. “Mas, de fato, a cultura se transforma, por isso é fundamental preservar nossa memória”, pondera.


Pascoal Maynard destaca a importância de um mestrado como multiplicador das discussões sobre as culturas populares.
Pascoal Maynard destaca a importância de um mestrado como multiplicador das discussões sobre as culturas populares.

Essa transformação das culturas, que muitas vezes pode ameaçar a memória, é um dos pontos importantes para a existência de um programa de pós-graduação em culturas populares e da realização do seminário.

Segundo o Pascoal, a participação das novas gerações em estudos sobre as culturas populares pode contribuir para manter a memória viva. “Por incrível que pareça, tem-se uma geração antes deles, antes dessa juventude, que é praticamente alienada, não sabe, não conhece, fica naquela coisa de ‘o importante é o que vem de fora’”, reclama.

“Os mestres [pessoas que detêm conhecimento ancestral de uma expressão da cultura popular] sentem hoje muita dificuldade em passar isso para as novas gerações, e com isso a gente vai perdendo a preservação da nossa história”, pontua.

Por isso, segundo ele, a importância do registro das manifestações – além de documentarista, Maynard apresenta um programa na TV pública estadual Aperipê - e das pesquisas científicas, como as do PPGCULT.

Pós-graduação em Culturas Populares

Foi a oportunidade de pesquisar um tema relacionado à cultura popular que levou Luana Almeida a cursar mestrado no PPGCULT.

Ela é formada em Turismo pela UFS, cujo trabalho de conclusão do curso foi sobre o “modo saber/fazer beiju em São Cristóvão”. Na especialização Planejamento em Turismo, também na UFS, ela fez um circuito gastronômico no centro de Aracaju, com restaurantes que servem comidas e cardápios típicos da culinária sergipana.

“Então, como eu tenho essa trajetória sobre culinária e gastronomia, comecei a pesquisar alguma manifestação cultural aqui em Sergipe que tivesse esse foco. Quando surgiu o PPGCULT, juntei as minhas duas paixões e decidi pesquisar”, narra.

Luana estuda agora o Samba de Aboio, em Carmópolis. “Eu pesquiso a alimentação tradicional feita no Samba de Aboio - tem todo um preparo de cozido de carneiro e de boi durante o samba”, explica.


A mestranda Luana Almeida pesquisa a cultura popular associada à culinária e gastronomia: “Quando surgiu o PPGCULT, juntei as minhas duas paixões”.
A mestranda Luana Almeida pesquisa a cultura popular associada à culinária e gastronomia: “Quando surgiu o PPGCULT, juntei as minhas duas paixões”.

A mestranda destaca a proposta do PPGCULT. “Sergipe é muito rico em culturas populares, são mais de 80 grupos e manifestações populares”, observa. Ela ressalta ainda que o programa traz para a UFS pesquisas sobre a cultura popular de outras partes do país. “Temos alunos não só de Sergipe, mas também de Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Bahia…”, enumera.

Segundo a coordenadora do PPGCULT, Neila Maciel, a segunda edição do seminário segue a mesma ideia da primeira, de promover diversas pesquisas, metodologias, narrativas audiovisuais que trataram ou estão sendo desenvolvidas sobre o tema.

“São pesquisadores não acadêmicos e acadêmicos, produtores culturais, os quais vêm apresentar seus trabalhos para que os interessados nas culturas populares possam conhecer e ampliar ainda mais o debate sobre nossa formação identitária”, disserta.

Ela explica que o segundo dia do seminário é dedicado a palestras sobre temas interdisciplinares que trazem perspectivas diferentes sobre o popular. O terceiro dia é dedicado a apresentações das pesquisas desenvolvidas pela turma 2019 do Ppgcult.

Marcilio Costa
comunica@ufs.br


Atualizado em: Qui, 17 de outubro de 2019, 17:19
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